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Sobre passar 15 dias viajando sozinha entre a Espanha e a França

Eu não tinha planos de viajar sozinha tão cedo. Eu queria viajar para a Grécia com a minha família e esse era o plano. Até minha mãe não conseguir tirar férias em Julho.

Me vi com um mês de férias do trabalho e da faculdade. Dinheiro de um ano de salário guardado. E um mundo para viajar.

Não pensei duas vezes antes de montar um itinerário que coubesse no meu tempo e bolso. Tinha pouco mais de um mês para resolver tudo. E toda a problemática de viajar sozinha nunca passou pela minha cabeça.

Eu só queria viajar. Assim como continuo querendo porque isso é o que quero fazer da minha vida. Com companhia ou não. Não importa.

E foi assim que eu resgatei um voo de Guarulhos para Madrid, com conexão em Frankfurt, para o dia três de julho de 2018.

Meu roteiro incluiu alguns sonhos e saudades. Foram três dias em Madrid, seis em Salamanca, um em Segóvia e outros três em Paris.

Completamente sozinha eu fui para reviver muitas das emoções de 2013 (quando passei um mês estudando em Paris depois da minha primeira viagem de avião). E não me arrependo nem um pouco.

As mil questões sobre viajar sozinha

Nós não somos acostumados a valorizar a própria companhia. Pessoas que almoçam sozinhas recebem olhares de pena. Há quem considere home office suicídio por conta do baixo contato entre humanos. Morar sozinho, então, pode ser considerado um pecado.

Mas eu nunca tive muitos problemas com isso. Sempre me dei muito bem comigo mesma. Sempre senti que precisava de um tempo sozinha. Talvez por isso nunca houve pânico ao imaginar uma viagem só com a minha companhia por duas semanas na Europa.

Horas depois dessa foto, no primeiro dia de viagem e em Madrid, eu tive uma crise de pânico

Mas às vezes ele aparece. Em outro continente, em lugares que não falam a sua língua materna e não compartilham da mesma cultura que a sua, pode ser complicado de vez em quando. Porque você foge da zona de conforto. Está em um lugar cujas dimensões incomodam. E você pode só querer dormir. Chorar. Passar o dia na cama. Voltar correndo pro Brasil.

Porque nada ali é a sua casa. Nada ali é sua âncora. Só você com você mesma. Então tudo é sentido ao extremo. O maravilhoso é uma utopia. E o ruim é o mármore do inferno.

Você precisa ser responsável como um agente do FBI porque não há mais ninguém para te lembrar de coisas importantes. Tem que garantir que todos os documentos estão certos porque a imigração europeia pode não ser muito legal com quem quer viajar sozinha. Precisa saber exatamente que horas o sol nasce e se põe.

Porque acima de tudo somos mulheres. Que correm riscos em qualquer lugar do mundo. Acompanhadas ou sozinhas, aliás.

O lado bom de viajar sozinha

Sim, tudo é levado ao extremo. E como já disse, isso inclui as partes boas, que são a maioria. Passadas as tempestades de questionar seus motivos, a gente limpa as lágrimas e percebe como o mundo é incrível e merece ser vivido.

Sozinha isso pode ser tão incrível quanto acompanhada. Porque eu não coloco as duas situações em patamares diferentes, mas como experiências distintas.

É incrível poder acordar no horário que quiser. Fazer o que quiser. O que inclui andar quilômetros em um dia ou dormir toda a tarde seguinte. E também passar horas para tentar tirar aquela foto dos sonhos. Ou simplesmente não pegar a câmera por dois dias seguidos.

Porque nesse momento você pode ser egoísta. E pensar só no que você quer. Seja comer fast food todos os dias ou experimentar todas as comidas legais. Não há ninguém com quem negociar. Apenas os seus desejos. E esse tipo de experiência pode ser capaz de colocar todo o resto em perspectiva.

Em um dos dias mais especiais da vida, quando eu conheci Segóvia e realizei o sonho
de andar por ruas medievais

Ninguém ali te conhece. Você pode fazer o que quiser sem medo de julgamentos ou algo do tipo. Se permitir fazer o que nunca tinha pensado antes. Tudo dentro da legislação daquele país que não é seu. Porque não queremos problemas no exterior. Muito menos sozinha.

É o tipo de experiência que define o antes e depois da sua vida. Pelo menos nas primeiras vezes. Muito porque suas prioridades acendem em gigantes letreiros. E tudo aquilo que não foi nem uma nota de rodapé desaparece. Sendo que muitas vezes eram grandes coisas no dia-a-dia.

10 dias na Espanha

Ditas todas as essas coisas básicas sobre viajar sozinha, preciso destacar algumas diferenças entre as cidades que visitei.

Madrid é uma cidade incrível. Pé no chão. Que incorpora sua história e vive o aqui. Ela é grande. Capital. Efervescente. E por isso foi a mais difícil.

Por mais que seu circuito mais turístico seja relativamente pequeno, existem os carros. Os barulhos. As pessoas. Tudo é rápido. E às vezes eu me sentia mal.

Foi uma surpresa. Eu amo grandes cidades. Estudo na Avenida Paulista. Não imagino ser capaz de amar uma cidade mais do que amo São Paulo. E mesmo assim por vezes Madrid foi onde o sentimento de não-pertencimento mais me atingiu.

O que não diminui as experiências incríveis que tive ali. Vi As Meninas, do Velásquez, e também Guernica. Andei por ruas maravilhosas. Reencontrei minha colega de quarto de Paris em 2013, a Marina, e andamos por um dia inteiro.

Salamanca foi diferente. A cidade é pequena. Em poucas horas você a andou inteira. E logo me familiarizei com tudo por ali. Me apaixonei pelos prédios históricos. Pelas ruas estreitas e tortas e floridas. Por toda a atmosfera universitária que paira a cidade.

Segóvia, então, foi um sonho. Talvez por só ter passado um dia ali, onde realizei mil desejos de infância sobre conhecer cidades medievais. Eu me sentia flutuando pelas ruas. E poucos dias na minha vida foram tão incríveis como esse.

3 dias em Paris

Mas tudo mudou em Paris. Eu já morei lá. Então conheço todo o centro da cidade, suas ruas e lojas e igrejas e prédios. Sair do metrô e dar de cara com o Jardim de Luxemburgo me fez chorar de emoção. Eu estava morrendo de saudades. Porque parte de mim já pertence a Paris. Por mais que ela nunca vá conseguir substituir São Paulo. Ela também é minha casa. A segunda. Mas minha casa.

Que roubou minha carteira enquanto eu ia até o aeroporto pegar meu voo para o Brasil.

E nos próximos posts eu vou dividir todos os detalhes dessa viagem incrível que me fez ver como vale a pena pegar dois ônibus só para economizar uma passagem de metrô. Foi assim que eu consegui viajar um trecho de executiva, por exemplo.