Cidades Históricas,  Espanha,  Europa,  Museus,  Passeios Culturais,  Roteiros,  Salamanca

Roteiro perfeito para três dias em Salamanca, na Espanha

Fui para Salamanca sem nem mesmo o esboço de um roteiro. Só sabia que a cidade era um dos meus maiores sonhos (culpa da sua universidade de 800 anos) e que eu queria ficar o máximo de tempo possível por lá.

Fiquei uma semana. Em um desses dias fiz um bate-e-volta para Segóvia. Nos outros cinco (considerando que cheguei às 18h e fui embora às 10h), ia escolhendo o que fazer conforme andava pela cidade.

Foi uma experiência nova, gostosa e muito libertadora. Eu tinha mais tempo do que o dobro do suficiente para conhecer todos os pontos turísticos. Então tive muitas horas para andar pelo centro histórico, conhecer a parte modernizada de Salamanca, entender seu ritmo e me apaixonar pelas suas pessoas (principalmente os velhinhos).

Tudo foi incrível. Mas eu sei que muita gente me chamou de louca por não usar esse tempo para conhecer outros lugares. Então resolvi montar um roteiro base de três dias, tempo perfeito para fazer todo o circuito turístico da cidade. E se perder pelas ruas. O melhor programa de Salamanca sem sombra de dúvidas.

Dia 1: Convento de San Esteban, Igreja de San Esteban, Convento de Las Dueñas e Plaza Mayor

Minha dica é deixar esses programas para o domingo. Depois de dormir até às 10h, porque Salamanca acorda às 11h, vá até a Igreja de San Esteban e fique extremamente encantado com a sua beleza. Ela começou a ser construída em 1524 e deixa bem claro, logo na fachada, que faz parte do estilo plateresco, exclusivo da arquitetura do Renascimento espanhol.

A Igreja faz parte do complexo do Convento de San Esteban, e se entrar nela é de graça, você precisa pagar pelo ingresso para conhecer o Convento. O valor para o público geral é 3,50 euros, mas grupos e estudantes pagam 2,50. Ah, ele fecha de segunda-feira.

Aqui eu preciso fazer um adendo. Em minhas pesquisas, vi que muitos lugares de Salamanca têm sua história ligada à colonização das Américas. E como sua grande maioria está ligada à Igreja Católica, você não vai ver uma retratação ou pedido de desculpas pela catequização. Muito pelo contrário.

Esse cenário fica claro no Convento e por isso eu aviso: se prepare caso esse tema seja sensível para você. Ele é para mim e confesso que me senti mal em alguns locais do Convento. Sua arquitetura é linda e é incrível conhecer um lugar com tanta história. Mas seu tom de “fomos a salvação de milhares de povos indígenas que puderam conhecer a Palavra de Deus” dá náuseas.

Ainda mais por saber que esse tipo de atitude ainda é muito comum nos dias de hoje. Igrejas, principalmente evangélicas, organizam dezenas de “missões” para locais afastados na Floresta Amazônica. Invadem territórios indígenas para “levar a verdade da palavra de Deus”. Me poupem. Isso tem nome e se chama etnocídio.

 

Falo isso porque viajar não é só ver lugares bonitos. É também refletir sobre a humanidade e sua história. Nesse caso, pensar que ao viajarmos temos a obrigação de respeitar culturas que não são nossas (e por isso obviamente eu não fiz uma reclamação com os responsáveis pelo Convento). E entender que isso poucas vezes foi feito ao longo dos séculos.

As religiões no geral não vão repensar a sua postura de “sabemos a verdade e precisamos espalhá-la para o resto do mundo”. Não vão parar de ser etnocidas. Cabe a nós, população e turistas, saber identificar quando isso acontece e por que é tão importante tentar combater tais práticas.

Nenhuma cultura é superior a outra. A imposição de uma em detrimento de outras é um ato perigoso e nojento, que tem como o objetivo acabar com a diversidade cultural e religiosa do mundo. E isso deveria acabar.

Feito esse desabafo, reforço que o Convento vale a pena de ser conhecido. Mesmo com inscrições duras, elas também nos fazem encarar o pensamento colonialista e essa situação que ainda é pouco debatida no Brasil. Estudamos o básico na escola. Mas quantos de nós tivemos aulas de antropologia para entender a fundo essa questão?

Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em Salamanca a siesta é real. Além da cidade acordar tarde, ela volta a dormir às 14h e só abre os olhos novamente por volta das 17h. Eu recomendo respeitar o ritmo da cidade em pelo menos um dos seus dias por lá. Afinal, os pontos turísticos podem ser vistos em pouco tempo, então você ainda terá muitas horas para sentir o lugar onde se está.

Acorde lá pras 16h30 e vá para o Convento de las Dueñas, que fica literalmente na frente do Convento de San Esteban. Não o conheci (viajei com pouco dinheiro e pulei um ou outro programas em Salamanca), mas a entrada custa 2 euros. O prédio segue o modelo arquitetônico do seu vizinho, mas a parte legal é que algumas freiras enclausuradas ainda moram lá.

Não deixe de conhecer a Plaza Mayor em seu primeiro dia. Você muito provavelmente vai cansar de passar por ela durante a viagem (ela é bem central e está literalmente no meio do caminho para todos os lugares), mas tire umas horas da sua noite para estar nela no primeiro dia.

Se o orçamento permitir, escolha um de seus restaurantes e jante por ali. Se esse não for o caso, procure as opções baratas dos arredores (tem McDonald’s, 100 Montaditos e Papizza, por exemplo), e depois volte à Plaza para tomar um sorvete. Uma grande parte da cidade se encontra ali por volta das 20h, ao menos no verão, e a movimentação é uma delícia.

Curiosidade. Nesse momento você já deve ter percebido que Salamanca tem um padrão: praticamente todos seus edifícios históricos foram construídos com a mesma pedra de tom dourado, a piedra franca, e por isso parece que essa é a única cor da cidade. Na Plaza Mayor, de 1729, isso fica bem evidente.

Dia 2: Catedrales Nueva y Vieja de Salamanca, Universidad de Salamanca, Plaza de Anaya e Palacio Episcopal

No segundo dia, mude o eixo do seu roteiro para o centro sul da região histórica. Minha recomendação é começar a manhã nas Catedrais Nova e Velha da cidade, cujas construções estão unidas e o acesso é feito pelo mesmo lugar.

Os prédios são esplêndidos. Eu sou suspeita para falar de igrejas, mas fiquei de queixo caído quando, depois de pagar quatro euros (entrada reduzida para estudantes, o preço normal é cinco euros), me deparei com a Catedral Nueva.

Ela começou a ser construída em 1513 e grita gótico tardio. Seu tamanho é magnífico. Todos os detalhes também. E vale a pena parar em cada uma das capelas para conhecer mais da história da catedral.

Depois de conhecer toda a construção nova, vá para a Catedral Vieja, que impõe sua presença pela temperatura. Construída entre os séculos XII e XIII, conta com as grossas paredes do estilo românico e todas as outras características do momento histórico.

Confesso que fiquei um pouco emocionada de entrar ali, na provável igreja mais antiga que já conheci. Pensando que a Notre Dame já pertence (lindamente) ao gótico.

Dica: dispense o audioguia. Todas as informações ali faladas estão disponíveis em tótens dispostos ao longo das catedrais.

Depois desse mergulho nos séculos passados, atravesse a rua das catedrais e veja o que está em exposição no Palácio Episcopal. Quando estive em Salamanca, em julho de 2018, visitei uma pequena exposição sobre “La moda y época del Siglo de Oro español”. 

Apaixonada por moda que sou, fiquei mais tempo do que deveria aprendendo sobre a indumentária de várias épocas espanholas, e principalmente, de trajes típicos daquela região.

Também preciso dizer que vi, bem na minha frente, a primeira edição do segundo volume de Dom Quixote.

Plaza de Anaya e Universidad de Salamanca

Aproveite que você está nesta região para conhecer outros dois prédios: o gratuito Palacio de Anaya, atual edifício da Escola de Filologia da Universidad de Salamanca, e outra parte da universidade: o edifício de Escuelas Mayores.

Palacio de Anaya

A entrada é a mais cara de Salamanca – custa 10 euros – mas provavelmente, a mais incrível. A universidade compete, no meu ranking, com as Catedrales. Mas ela tende a ganhar, já que foi ela que colocou Salamanca no meu rada de viagens há uma década.

E por ela que eu peguei um avião rumo à Europa em julho de 2018.

Não a ignore. Não a deixe de lado. Pague o ingresso. Dispense o audioguia. Leia todos os tótens e conheça a história de cada uma daquelas salas. Se perca nos mapas. Tente tirar uma foto na escada e atrapalhe, sem querer, cientistas de jaleco que trabalham ali.

Aquele lugar é mágico. Suas paredes completaram 800 anos esse ano. E andar por todos aqueles corredores foi tão especial pra mim. Espero que seja para você também. Porque só esse lugar já fez minhas duas semanas de viagem valerem a pena.

Dia 3: Clerecía, Casa de las Conchas, Palácio de la Salina e Puente Romano

Salamanca tem duas universidades principais: a Universidad de Salamanca, que faz 800 anos em 2018, é a mais antiga da Espanha e você já terá visitado no dia anterior, e a Pontifícia Universidad de Salamanca. Ela e seus arredores são o foco de hoje.

 

Clerecía ao fundo e Casa de las Conchas à direita

A Casa de las Conchas é o provável prédio mais conhecido de Salamanca. Ele é surrealmente bonito e surpreendente? Não. Mas ele tem conchas nas suas paredes externas. E começou a ser construído em 1493.

Hoje em dia o edifício abriga uma biblioteca, de acesso livre, e um pátio bem característico com o quê de arte mourisca – presente em tantos lugares da cidade. Nele, costumam acontecer exposições, assim como no pátio do Palacio de la Salina. Mas falaremos dele um pouco mais para frente.

Depois, atravesse a rua, aprecie um pouquinho a Calle de la Compañia, e entre na Universidad Pontifícia de Salamanca. Lá você pode escolher dois programas: a Scala Coeli, que consiste em subir até as torres da Clerecía (Iglesia del Espiritu Santo) ou fazer uma visita guiada pela coleção Vita Ignatii.

Eu escolhi o primeiro e não me arrependo da escolha, mas se tivesse mais dinheiro, talvez fizesse a visita guiada também.

Agora sobram dois lugares, e eu recomendo programar as visitas de acordo com a localização do seu hotel. Até porque são duas visitas rápidas.

Uma delas é a Puente Romano, uma ponte bem bonita de aproximadamente 1606, que tem uma vista maravilhosa para a cidade. A área é uma das mais vazias de Salamanca e conta com prédios históricos muito fofos. Vale a pena passar um tempinho por lá.

A outra é o Palácio de la Salina, outra construção histórica lindinha da qual só podemos conhecer o pátio. Contudo, sua arquitetura é bem interessante e ele costuma ter exposições de arte por ali.

Um comentário

Deixe uma resposta