Toda viagem tem um perrengue

Europa 2: atraso, briga com o chef, multa, furto e muito mais

Oi doce viajante, tudo bem com você?

Está aí, me lendo com pelo menos a primeira dose da vacina tomada e vislumbrando um futuro não tão distante que contempla nossas tão sonhadas viagens?

Pois muito que bem, enquanto a gente espera a segunda dose (ou primeira, se você for um neném), vem comigo para a minha segunda viagem para a Europa? “Ai, que debochada ela!!! Se acha”. Acho mesmo, me acho fazendo contas e praticamente vendendo o rim esquerdo para conseguir realizar sonhos.

Mas então, como eu ia falando, a ideia para essa viagem era conhecer outros países, e por isso focamos na Itália, Espanha, sul da França e Portugal. Pode falar, a gente não aprende mesmo… Pra que tanto destino em uma viagem só? Ah mores, a gente quando viaja, a gente viaja, a gente quer viajar viajando, como se nunca mais fosse viajar na vida (teria sido uma premonição? Não sei).

Primeira parada: Milão

Mas sabem o que a gente aprendeu? A comprar um chip de celular assim que chega no local – posso ouvir um “amém” do lado daí? Ótimo! A gente começa por Milão, o coração da moda – pra quem tem grana, né? No caso, o máximo que rolou pra mim foi olhar as bolsinhas linhas da Prada pela vitrine como cachorro fica olhando frango assado rodar.

Chegamos no aeroporto, compramos um chip e nos direcionamos para o centro, onde alugamos um Airbnb. Chegamos uma hora atrasados e descobrimos a fúria dos italianos! O moço que estava aguardando a gente para entregar as chaves do apartamento alugado estava transtornado. É, pegamos ele em um dia ruim. Mas a gente não ia deixar o mau humor gringo alheio atrapalhar. Deixamos as coisas no apê e saímos para comprar passagens de trem para fazermos um bate-volta em Veneza! Ai que chiqueee!!!

Na estação central, tensão. Já havíamos lido que é um local bem comum de golpes em turistas (e a gente, vocês sabem, a gente adora cair num golpe). Ficamos atentos, mas mesmo assim foi tenso. A compra, teoricamente, era feita em máquinas, mas era muito complicado de entender e o assédio para “tentar ajudar” era imenso. É por isso que sou das antigas, eu topo super ficar numa fila para falar com um ser humano e ter certeza do que estou fazendo – no caso, comprando – a coisa certa. Euros, né mores? Não dá pra errar. Qualquer erro em euros é fatal.

Cadê o basílico?

No dia seguinte, após conhecer a linda e maravilhosa Duomo (Catedral de Milão), fomos à uma pizzaria bem recomendada. Pedi uma pizza marguerita e o moço (meu doce marido) pediu um lanche. Chegou a pizza e um total de zero folhas de manjericão. Mas tudo bem, a gente viajou 9 horas até aqui, dá pra ficar feliz com uma pizza de marguerita sem manjericão. Mas só que não. A pizza era minha, mas o moço cismou que tinha que ter manjericão e que o pedido tinha vindo errado. Vamos testar a paciência dos italianos mais uma vez? Vamos!!!

Depois de procurar pela tradução da planta no google tradutor (viva chip!), o moço foi atrás do pizzaiolo para perguntar, num italiano mequetrefe, onde estava o “basílico” da MINHA pizza. Sem entender e transtornado, o cozinheiro pegou uma única folha de manjericão, veio até a mesa (onde eu já estava escondida embaixo da cadeira de tanta vergonha) e jogou a folhinha na minha pizza semi-comida. E assim a gente começa a contar a horas para sermos expulsos da Itália para sempre.

Due minutti

Depois de aceitar a vergonha, decidimos ir ao mercado para comprar umas coisinhas básicas como água, um pãozinho e lanchinhos para na nossa viagem à Veneza, que aconteceria no dia seguinte. Já era tarde e, assim que entramos no mercadinho, a moça do caixa literalmente berra “due minuti!!! due minuti!!!”. Na imaginação, dada a forma como essa informação nos foi passada, acreditei que o mundo iria acabar em dois minutos. Mas na verdade era o mercado mesmo que fecharia em dois minutos. Tá complicada essa nossa relação com a dona Itália, hein? Jesus! Mas vamos que vamos, se é dois minutos que temos é em dois minutos que iremos fazer as compras. Preciso dizer a cara da moça do caixa?

Hora de embarcar para a tão sonhada Veneza. Trem tranquilo, viagem calma. Chegando lá, uma onda de turistas enlouquecidos por toda a parte. Ruazinhas, pontezinhas, canais e gôndolas por todos os lados. É claro que esse último passeio a gente não fez, afinal, o Real só nos permite olhar os Euros que são gastos para entrar num barquinho como esse. Mas tudo bem, faz parte. Depois de andar muito, chegamos na praça principal de Veneza. Como eu casei com a avareza, não entramos em nenhum café ou restaurante ali, então me restou mesmo sentar no chão, no meio da praça, para descansar. Mas a gente esquece né? Esquece do aquecimento global, esquece que o nível do mar está aumentando e esquece também que do chão de Veneza sai água! E muita! Preciso dizer o quão maravilhoso foi passar o resto do dia com a poupança molhada? Ah, o brasileiro…

No dia seguinte decidimos curtir mais um pouquinho de Milão e ir em busca do então “bife à milanesa”! Que, estando em Milão se torna apenas bife. Há. Piadinhas de lado, demoramos uma vida todinha para chegar ao restaurante indicado. Era longe e, com o moço, é proibido pedir um táxi. Pegamos o cardápio, que não tinha uma única foto para ilustrar um único prato, e todas as mesas no entorno comendo o tal bife à milanesa. Lemos, relemos, lemos de novo. Google, google tradutor. E decidimos chutar um dos pratos na esperança de receber um bife frito com uma casquinha de farinha. Pra que ser assertivo e pedir “igual a esse” apontando para o prato do lado, quando você pode errar em Euros? Os pratos chegaram e pá, nada de bife. A vida, mores, é uma safada. Mas desse vez, cansados de arranjar encrenca, não discutimos com o cozinheiro e comemos o prato que veio mesmo.

Nice

Depois de curtir alguns dias em Milão, pegamos o trem rumo à Nice. Chegando lá, conheci um dos mares mais azuis que já vi em toda a minha vida combinado com uma praia muito diferente: de pedras, e não areia, como estamos acostumados. O sul da França é uma região que vale a pena ser explorada, são lugares lindíssimos e com pegada diferente da atmosfera urbana da Paris (ui, ela que falar chique ela).

Para visitar cidades como Marselha e Manosque, alugamos um carro. Arrojado para uma viagem na Europa – e é nesse momento que alguns dos perrengues mais memoráveis de todas as nossas viagens têm início. Primeiro que a burocracia para alugar um carro em Nice chega num ponto de quase querer desistir. Mesmo deixando tudo praticamente agendado no site de locação, a dona Alamo demorou quase duas horas para liberar um carrinho e quando ele chegou, pasmem, estava completamente tomado de pelos de gato. Como estávamos atrasados para fazer o nosso tour, abrimos mão da limpeza e decidimos conviver com aquela situação bizarra – até apelidamos o carro de “borsa suja”. Passamos por diversos pontos turísticos e visitamos nada mais nada menos que a fábrica da L’Occitane. Sim, chique, muito chique! E digo para vocês, esse tour na fábrica é de graça! Recomendo imensamente caso você seja fã da marca assim como eu.

Cuidado com o radar

Depois de um dia maravilhoso, decidimos aproveitar o carro e ir até Mônaco, que fica ao lado de Nice e é conhecida pelas corridas de Fórmula 1. O moço ama carros, logo, estava muito ansioso para passar pelo trajeto dos carros de corrida, em especial na tal da chicane, uma curva famosa em Mônaco. Ficou feliz da vida com o passeio, tão feliz que achou que era o Lewis Hamilton e decidiu acelerar. É nesses momentos, que você acha que é rico e poderoso, que a vida vem para te mostrar o seu lugar no mundo. A gente só viu um grande clarão e pá… Deus! Não, mentira, um radar! Juro. Tanto lugar em São Paulo para tomar multa, e o abençoado resolve tomar multa em MÔNACO! E sabe o que isso significa? Multa em euros, mores! Euros! É mais que uma multa, é um castigo, uma lembrança eterna da sua posição no terceiro mundo.

Ainda administrando o susto, precisávamos abastecer o borsa suja e entregá-lo na manhã seguinte para a dona Alamo (a locadora de carros). Paramos no posto e, assim como nos EUA, também tínhamos que abastecer por conta própria, sem ajuda de frentista. Então meu doce marido foi lá, pagou o valor pelo tanque e pegamos a mangueira de “gazole”. A ponta da mangueira não entrava no buraco do carro por nada neste mundo. A gente tentou de tudo, até pedimos ajuda para um local e nada.

Pegamos o guia do carro e nada. Eis que depois de longos minutos descobrimos o que jamais poderíamos imaginar: gazole, em francês, significa diesel e não gasolina, como imaginávamos!!! Gente, não sei se fico triste ou feliz… já imaginaram se a gente consegue efetivamente colocar diesel num carro que anda a gasolina? Santa ignorância meu povo, santa ignorância.

Depois de encontrar a gasolina de verdade (não me lembro o nome certo, mas decorei pro resto da vida que não era gazole), precisávamos encontrar um lugar para estacionar o borsa. Qualquer pessoa sensata procuraria um estacionamento para parar um carro alugado, mas a gente, que gosta de economizar 10 euros, estaciona o carro alugado na rua mesmo, rezando para no dia seguinte ele estar no mesmo lugar e intacto. Mortos de cansaço, rodamos Nice em busca de um lugarzinho e depois de alguns bons minutos encontramos uma vaga perto do hotel. Tá, não t ão perto, mas a economia de 10 euros vale uma caminhada. No dia seguinte, não encontramos mais o carro. Mentira, brincadeira, foi só para causar uma comoção. O carro estava lá sim, paradinho e sujinho.

Próxima parada: Península Ibérica

Depois de entregar o carro, partimos para Barcelona, onde, por 5 dias, uma nuvem chuvosa que veio de Londres pairou sobre as nossas cabeças. Apesar do tempo ruim, conseguimos curtir muito a cidade e as maravilhas criadas por Gaudí. Seguimos então para Portugal, direto para a cidade de Porto, onde finalmente encontramos uma comida parecida com a nossa – sim, arroz, feijão, bife e batata frita! – a um preço muito bom: 3 euros! Acho que o fato de ter coisas parecidas com o Brasil, especialmente a comida, te ajuda a criar uma conexão imediata com o local. Além disso, uma pessoa bem alimentada, por um preço justo, não quer guerra com ninguém.

Para chegar até Lisboa, alugamos um carro – sim, mais um – e fizemos algumas paradas ao longo do caminho. Uma delas em uma linda cidade chamada Aveiro. Quando estacionamos, um flanelinha apareceu e pediu para pagarmos antes de voltar. O moço, que é desconfiado, disse ao flanelinha que pagaria na volta. Preciso dizer que quando a gente voltou, os pinos dos pneus do carro não estavam lá… Mas a gente não pode acusar ninguém, não é mesmo? Saímos correndo sem pagar o flanelinha – fazendo má fama em Portugal.

Chegando em Lisboa, conhecemos o famoso pastel de Belém (o moço amou, eu nem tanto) e fomos atrás de um doce super recomendado da internet. Demoramos uma vida todinha para chegar na doceria e o que comemos foi o que, na nossa interpretação, era um bolo de ovo com cacau. A sensação era de engolir ovo cru. Eca. Euros jogados no lixo. Mas nem só de boas experiências vive um viajante, não é mesmo?

 

Hay encontrado? Porque hay perdido

Partimos de Lisboa direto para Madrid, eu sei, não faz muito sentido, mas financeiramente fazia na época que estávamos viajando. Estávamos lá para o segundo dia na cidade, próximos da data de embarque para o Brasil, quando uma coisa muito chata aconteceu. Perrengue que chama, né? Estávamos no mercado, próximo do hotel, quando notamos a mochila aberta. Nos demos conta de que o celular do moço não estava lá. Procuramos em tudo, no chão do mercado, fizemos o caminho de volta para a estação de metrô que chegamos e nada. Tudo indicava que tínhamos sido furtados no metrô mesmo. Mas eu, que sou a rainha da inocência, ainda tinha esperanças de que a gente só tinha perdido em alguma loja. Peguei os recibos das nossas compras e comecei a ligar nos estabelecimentos.

Pausa para breve explicação: existem em mim um ser que acha que sabe falar espanhol. Acha não, tem certeza. Um pedaço de mim que incorpora uma identidade única, que acha que é fluente só de falar “Hola, que tal?”. Pensem numa pessoa ligando para as lojas e falando “Hola, por favor, hay encontrado um celular branco? LG? Porque hay perdido. Mi marido perdió su celular blanco, LG. Hay encontrado?” Claro que quase todos desligaram na minha cara. Alguns até tentaram me ajudaram, mas realmente não tinham encontrado o tal do celular.

O moço ficou triste e eu também, claro. Mas paciência. Se não tem perrengue, a viagem não foi completa. E para fechar com chave de ouro, enquanto esperávamos a chamada para o nosso avião no saguão do aeroporto, degustamos um delicioso lanche de “jámon”. Em algum restaurante? Não mores, compramos pão e abrimos com os dedos mesmo, colocando o presuntinho dentro. Aaah, a gente adora uma farofada!

Gostou? Espero que sim! Que você tenha conseguido viajar um pouquinho por meio dessa história de perrengues.

Um beijo no seu coração viajante!
P.S: A multa chegou depois de alguns meses, direto na nossa portinha tupiniquim, só 50 euros, coisa pouca, só que não.

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