De Roma até Paris com a Air France: minha experiência
Depois de 12 horas de voo entre São Paulo e Roma, então eu estava em solo europeu, pronta para minha conexão de sete horas até viajar com a Air France de Roma até Paris.
Talvez nem tão preparada assim. Estava esmagada dentro do ônibus que me levaria da pista ao terminal de passageiros. Rezando para que eu tivesse alguma blusa sem mangas na mala de mão. Sem conseguir entender por que raios não havia mais de dez bancos dentro do ônibus. E convencida de que eu era a única sem saber o que fazer ali dentro.
Pois bem, cheguei ao terminal e deveria fazer o que? Seguir para o raio-x? Pedir ajuda? Sentar e chorar? Precisava ligar para os meus pais e não fazia ideia de como, já que decidimos não ativar o roaming e contar com o WiFi.
Parei no balcão de informações e pela primeira vez na vida usei meu inglês com alguém que não falava português. No meio de uma crise de ansiedade porque meu voo da Air France não constava na lista de conexões, o calor estava infernal e o desespero não me deixava pensar. Até que aquela moça conseguiu me tranquilizar. Eu não me lembro do seu nome, mas, grazie tante.
Pequena interrupção da Camille de 2020: quando você vai fazer uma conexão em países do Espaço Schengen, apenas siga as placas. Em alguns aeroportos, o controle de passaportes vem antes do raio-x. Em outros, é o contrário. Cada país e aeroporto tem as suas regras, então siga as placas e não surte como a Camille de 2013.
Sobre o Aeroporto Fiumicino em Roma
Então pude admirar aquele lugar gigante e maravilhoso e cheio de pessoas de todos os lugares do mundo. Famílias americanas branquelas com chapéus panamá? Check. Times inteiros de todos os tipos de esportes? Check. Brasileiros pirados para entrar no duty free? Check. Aliás, a primeira coisa que se percebe ao sair do Brasil é que não adianta, sempre tem um brasileiro no mesmo lugar que você.
Fui para a fila do raio-x. Escutei sobre voos atrasados e o caos do início do verão mais vezes do que posso me lembrar. Entrei na área de embarque e só precisava de duas coisas: um cartão telefônico e uma cadeira. Eu mal dei atenção ao free shop, só queria uma cadeira e uma esteira rolante entre o raio-x e o controle de passaportes. Isso porque esse aeroporto é o verdadeiro caos. E eu estava com uma mala de mão sem rodinhas.
Oi, desespero, tudo bom?
Fiquei perdida por mais de meia hora até conseguir uma cadeira e um cartão telefônico, que aliás, não funcionou. Fiquei amiga do cara do balcão de informações porque aquele cartão não funcionava. E joguei dez euros no lixo.
Por fim, só consegui falar com os meus pais – quando ainda era madrugada aqui no Brasil – por conta de uma rede WiFi bem fraca que só funcionou com o FaceTime.
Depois de deixar claro que estava viva e inteira, fui comprar souvenirs e, cansada de carregar uma mala de mão nos ombros, resolvi passar logo pelo controle de passaportes. Eu estava preparada, com todos os documentos em mãos e respostas na ponta da língua.
Mas só me perguntaram para onde eu ia. O responsável carimbou meu passaporte e me desejou uma boa viagem. Um tanto quanto confusa com a ausência de perguntas sobre a viagem, fiquei com medo de ter problemas depois. Mas tudo deu certo.
Penei mais um pouco para encontrar uma cadeira. Me perguntei o que raios significava prego que eles tanto falavam para tudo. E tive certeza que ser brasileiro é a bizarrice de achar que seu pai, neto de italianos, estava em todos os cantos do aeroporto.
Desespero 2.0
O problema voltou a atingir minhas costas detonadas quando o voo sairia em quase duas horas e não havia indicação alguma do seu portão de embarque. Meu alerta de ansiedade começou a apitar. E se mudassem o terminal?
O Fiumicino é gigantesco e eu não tinha condições físicas de percorrer aquela cidade que chamavam de aeroporto. E se o voo foi cancelado? Eu mal conseguira falar com os meus pais. Quem dirá com a agente de intercâmbio.
Me direcionei ao balcão de informações mais uma vez. Descobri que deviam anunciar o portão em alguns minutos. Graças aos deuses romanos.
Eu finalmente encontrei cadeiras! Cadeiras para todas as minhas bolsas. Para cada uma das minhas botas. Também para o meu casaco. E revistas gratuitas. Depois de percorrer um imenso corredor entre portões de embarque, encontrei o meu e suas cadeiras. E poderia me casar com cada uma delas.
Enquanto esperava ir de Roma até Paris, o sol estava maravilhoso lá fora. Mas eu precisava me contentar com tudo o que a Itália poderia me oferecer: um terminal de embarque. É revoltante? Sim. Mas agora já sou maior de idade e não mais ficarei em aeroportos durante futuras conexões. Esperem pelas próximas viagens.
Choque cultural
Mesmo dentro do aeroporto, perceber o choque cultural é divertido. E eu acho que foi ali, naquele lugar enorme e confuso, que eu tive certeza que meu encanto por tudo que é novo e diferente sempre tivera razão em existir.
Não sou uma pessoa que sente baques culturais com muita intensidade, pelo menos na curta experiência que já tive. Me adapto fácil e rapidamente a tudo que já experimentei, desde acreditar que o quarto do hotel onde passei o fim de semana é a minha casa até compreender italiano durante conexões em Roma.
Então talvez, quando o estranhamento não existe, só sobra o encanto. O brilho que um idioma diferente tem. Comidas diferentes são um desafio divertido. Até o preço exorbitante da água mineral na Europa tem sua magia, que não é eurocentrismo. E então o mundo é tão grande que todas as aulas de geografia mentiram para você. E você se sente tão, mas tão pequeno, que observar a imensidão de possibilidades que sete mares nos apresentam é mais um céu estrelado no interior.
Embarque com a Air France: de Roma até Paris
Logo a Air France anunciou o início do embarque, e em um misto de cansaço e animação, deixei meus devaneios em Roma e entrei no avião. Um bem menor que o 777 da Alitalia e bem menos confortável – isso porque a Alitalia já me preparara para qualquer coisa. E com um clima totalmente diferente.
De Roma até Paris temos apenas duas horas de voo, e a atmosfera é de uma ponte aérea Rio-São Paulo. Ninguém quer dormir com almofadas confortáveis. Só eu. Que estava mais de 24 horas acordada.
Não vou falar de procedimentos chatos – todo mundo sabe que tem que colocar o cinto e desligar os aparelhos eletrônicos. E de comida? Suco de laranja e bolachinhas, só. Mas teve uma coisa sensacional durante esse voo. Ver os Alpes entre a Itália, Suíça e França estava bem além das minhas expectativas. E até eu ter certeza que aquilo não eram nuvens de formato esquisito, levou uns minutos. E a janela estava suja demais para tirar alguma foto decente.
Chegada em Paris
Mais rápido que cruzar São Paulo às 18h, em duas horas eu fui de Roma até Paris. Cheguei Aeroporto de Orly, o menor de Paris e destinado aos voos domésticos, considerando rotas da UE também.
Desci já dentro do terminal, peguei minhas malas e parti para o desembarque, onde alguém deveria ter uma placa com o meu nome. Mas é a minha vida, né. Nada dá muito certo. E se o calor de Paris já era o suficiente para me fazer chorar, quando a míope não enxergou ninguém com plaquinhas legais, entrou em desespero e desolada, sentou em um banco – porque na França tem mais bancos do que na Itália até onde vai meu conhecimento.
Então eu tive a impressão que era o meu nome chamado para o balcão de informações. E era mesmo – digamos que é engraçado quando seu nome é francês, mas a pronúncia lá é Camí, e no Brasil, temos um -le no final. No caso, -lle.
E olhem só, a Morràne, uma das monitoras do programa e quem foi me buscar no aeroporto, achava que eu era italiana por conta do meu sobrenome, Carboni, e porque meu voo vinha da Itália. E eu fiquei perdida quando ela disparou a falar em francês e eu não entendia nadinha.
Obrigada, Miguel, intercambista espanhol que chegou junto comigo, pela ajuda na tradução.
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