Um dia na Vila de Paranapiacaba: o que fazer?
Eu e minha família tínhamos vontade de conhecera a Vila de Paranapiacaba e de fazer um passeio com o Expresso Turístico, da CPTM. Em novembro de 2015, decidimos unir os dois desejos e embarcar no trem que vai rumo à pequena vila do município de Santo André.
Paranapiacaba surgiu dos trilhos dos trens. Ela servia de acampamento para os funcionários da inglesa São Paulo Railway Company Ltd, responsável pela ferrovia Santos-Jundiaí. Em 1867, a inauguração da estrada de ferro fez com que a equipe precisasse se fixar para comandar os trens. Assim foi construída a Estação Alto da Serra, chamada de Paranapiacaba a partir de 1945.
Depois de muitas mudanças, hoje a estação de trem só recebe os trens do Expresso Turístico. O passeio é administrado pelo Governo do Estado de SP e liga a Estação da Luz, no centro da capital, ao refúgio britânico no meio da Serra do Mar.
Quando a composição – que parte do Bom Retiro todos os domingos – chega em Santo André, essa é a primeira vista que temos sobre o lugar. E ela já diz muito sobre a experiência de conhecer esse lugarejo histórico.
Vila de Paranapiacaba: uma cidade quase fantasma
Desembarcar na estação de trem da Vila de Paranapiacaba em um dia de forte névoa é entrar em uma tela de cinema. Nada além de poucos metros a diante pode ser visto, a decadência das ruínas da estação é hollywoodiana e a queda de temperatura, quase um romance de Stephen King.
Pode parecer exagero ou minha mente ficcional demais, mas eu me senti em um filme de terror. De uma forma boa. Nunca tinha experienciado nada parecido na vida, e a única vontade era de sair andando sem saber muito bem o que eu queria encontrar.
A vila, como o nome entrega, é pequena. Sair da estação e chegar até a parte urbana é muito simples, e além de ler as placas, você também pode simplesmente seguir o fluxo de pessoas.
São dois os principais atrativos de quem a visita: conhecer a história das casinhas de madeira ou fazer as atividades de ecoturismo. Paranapiacaba significa “lugar de onde se vê o mar”, em tupi, e quando a névoa colabora, algumas trilhas têm como presente a vista da Baixada Santista.
Para fazer as trilhas, é preciso estar acompanhado de um guia cadastrado. O serviço é pago e pode ser feito com profissionais, autônomos ou registrados na Associação de Monitores Ambientais (AMA).
Além dos atrativos ambientais – que eu ainda não conheço – as características históricas do distrito atraem muita gente. Desde estudantes de fotografia, passando por pessoas em busca de um cenário diferente para ensaios fotográficos até os fascinados por história.
Passarela Metálica
Um dos pontos mais turísticos é a Passarela Metálica, que separa a vila na Parte Alta – de origem portuguesa – e a Parte Baixa, com características inglesas. Como você desembarca na Parque Baixa, é preciso passar por toda a estrutura para chegar até a parte portuguesa do distrito.
Ao chegar ali, a ideia de cidade fantasma já desaparecera da minha cabeça. Agora eu me sentia teletransportada para uma realidade paralela. Como era possível, em uma hora e meia, sair do centro de São Paulo e chegar em um lugar onde a névoa faz com que fotos normais pareçam tiradas em preto e branco?
Ali se concentram fotógrafos e modelos que buscam fotos incríveis – e conseguem – e turistas em um vai e vem eterno.
Passamos pela passarela e começamos, então, a conhecer a vila a partir da Parte Alta. Um verdadeiro contraste com as casinhas de madeira que compõem a região mais conhecida do distrito.
Parte Alta de Paranapiacaba
Com construções coloridas e ruas íngremes, a Parte Alta também é conhecida como Vila Portuguesa. Suas casas irregulares, vivas e aleatórias não pertenciam à companhia ferroviária, mas eram ocupadas por comerciantes e funcionários aposentados.
Esta era conhecida como a parte pobre da vila, com condições de vida precárias e terrenos instáveis, como relata o blog Segundão Paranapiacaba.
Os dois maiores marcos desta região são a Igreja Bom Jesus de Paranapiacaba e o cemitério. Não conhecemos nenhum dos dois, mas descobrimos um projeto muito legal, que instalado em uma das casinhas portuguesas – todas parte do Patrimônio Histórico – quer ver a Vila, literalmente, com outros olhos: as lentes fotográficas.
Projeto Infinito Olhar
Na primeira rua, um garotinho nos parou na rua e nos perguntou: “vocês querem conhecer nosso projeto?” E obviamente nós quisemos, não deu para resistir. Dentro de uma das dezenas de portinhas mora um projeto fotográfico voluntário que de cara ganhou meu coração.
Ali dentro a psicóloga, neuropsicóloga e arteterapeuta Elisangela Cristina de Oliveira e o fotógrafo e publicitário Paulo Riscala Madi te recebem com um projeto lindo que, cada vez mais, tem ganhado espaço e visibilidade. O Infinito Olhar trabalha a fotografia e arte como um todo com as crianças de Paranapiacaba, e o resultado é fantástico.
As paredes da casa portuguesa – que também é apresentada e tem todos os seus cantos explicados – abrigam pequenas exposições dos participantes. Elas vão de fotografias sobre os cães abandonados na Vila de Paranapiacaba, por exemplo, ao resultado das aulas e oficinas ministradas no local.
É o tipo de lugar onde você renova suas esperanças sobre alguns aspectos da humanidade e sente motivado a fazer, também, parte de alguma mudança. Recomendo muitíssimo a visita. Que além de mostrar um lado contemporâneo do distrito, muitas vezes esquecido sob as camadas de história, também garante alguns souvenirs para os colecionadores, o que ajuda a manter o projeto.
Parte Baixa da Vila de Paranapiacaba: Vila Saint Martin
Voltamos, então, para a Parte Baixa da Vila. Onde casinhas vermelhas de madeira se enfileiras pelas poucas ruas e tentam se destacar sob a névoa. De início nós já reparamos na irregularidade das construções. Deixando de lado que algumas estão abandonadas enquanto outras ainda são residências, os padrões variam de casa para casa.
E isso acontece porque, quando as casinhas foram construídas, elas eram sob medida. Famílias tinham determinado estilo de casa, e os solteiros, outro completamente diferente, para citar um exemplo.
Como a vila é pequena, dá para percorrer todas as ruas e conhecer cada uma das casas.
Muitas das atrações do distrito ficam ali, como o Mercado Popular e a Casa Fox. Além disso, vários dos restaurantes da Vila de Paranapiacaba também estão localizados na Parte Baixa também.
Mercado Popular de Paranapiacaba
Um dos lugares pelos quais passamos foi o Mercado Popular, na rua Campos Sales. Ele estava fechado naquele domingo, mas sua arquitetura e banquinhos que desaparecem na névoa dão boas fotos.
E te fazem imaginar o que já funcionou ali um dia. Hoje a construção é um centro cultural, mas erguido em 1899, ele abrigava um empório de secos e molhados. Mais tarde também se tornou uma lanchonete, para recentemente ser restaurado pela prefeitura.
Por mais que estivesse fechado durante nossa visita, ele é aberto aos sábados, domingos e feriados, das 09h às 17h. A entrada é gratuita.
Casa Fox
Outro ponto turístico da região é a Casa Fox, que na realidade, são duas casas. Elas formam construções típicas do século XIX, que pertenciam a trabalhadores locais. Restaurada e também chamada de Casa da Memória, hoje ela abriga exposições temporárias. Elas têm como objetivo registrar e divulgar as memórias dos moradores da Vila de Paranapiacaba.
Mesmo sem exposições quando a visitamos, foi muito interessante conhecer a arquitetura e a disposição dos cômodos. Como já tínhamos entrado em uma casa portuguesa no Projeto Infinito Olhar, deu até para comparar os dois tipos de construção. Para quem quiser conhecer, ela fica na Avenida Fox, 438, e abre todos os dias das 09h às 16h.
Depois de passar pela Casa decidimos almoçar. Não lembro mais onde comemos, mas foi provavelmente na própria Avenida Fox. Aquela região concentra vários restaurantes, basta dar uma olhada no menu para encontrar o melhor para você.
Museu Castelinho
Por fim, nossa última parada foi o Museu Castelinho, que fica no alto da vila e nos garantiu uma boa caminhada até lá. A casa, antiga residência do engenheiro-chefe da estação de trem, fica na rua Caminho do Mendes. Várias placas indicam o caminho, mas tenha certeza: basta subir a ladeira.
Uma das construções mais bonitas da vila, ela foi ali construída em 1867, de maneira estratégica. Com vista para o pátio de manobras, o engenheiro poderia controlar todos os trens que chegavam e partiam da estação.
Por dois reais você conhece a casa em uma visita guiada. Os guias explicam tudo o que você pode querer saber: a arquitetura da casa, a história da vila, quem já morou ali – com direito a fotografias e explicações sobre os costumes da época – e a disposição de cada cômodo.
Mas não para por aí. Como um museu, ele guarda um incrível acervo da rede ferroviária. Tudo é explicado e apontado durante a visita, que dura cerca de meia hora e vale muito a pena.
Ele abre todos os dias, das 10h às 16h, e a visita é paga, o que te garante uma visita guiada por todos os andares da casa.