Toda viagem tem um perrengue

O começo de um sonho – e dos perrengues também!

 

Oi amigos andarilhos da Camille, tudo bem?

Como prometido na semana passada, trago aqui os relatos da minha primeira viagem ao exterior e os principais perrengues que tornaram esse passeio inesquecível. Mas antes, preciso contar algumas coisinhas que vão fazer toda a diferença no entendimento das minhas viagens pelo mundo.

Praticamente todos os perrengues que passei foram vividos junto com o meu marido, Victor – e ouso dizer que muitos desses desafios foram, inclusive, causados por ele de certa forma (ih, vai ter DR, rs). Sabe o que é, estamos falando aqui de uma pessoa aventureira, mas também bastante econômica, bem mão fechada, sabe? Uma pessoa que tenta economizar o máximo possível em tudo, tudo mesmo. “Ah, mas isso é ótimo! Não?”. É, meu bem, mas não posso negar que não economizar em alguns momentos da vida pode te poupar um belo de um perrengue.

Isto posto, preciso contar uma segunda coisa. Embarca comigo nesse sonho lindo: tudo começou com uma fita VHS do filme O Rei Leão, que ganhei em 1995. Provavelmente você nem tinha nascido e também não tem a mais vaga ideia se VHS é de comer ou passar no rosto, mas vamos em frente. A Disney, meu amores, sabe o que faz. Antes de todos os filmes, eles colocavam um vídeo promocional dos seus parques em Orlando.

Era lindo assistir no repeat o trenzinho passando com o Mickey, a bola gigante prateada (que fui descobrir anos depois que é uma bola de golfe), o tão sonhado castelo da Cinderela e o Dumbo voador. Ah, eu amava aquele começo de fita tanto quanto o próprio filme do Rei Leão. Tudo bem, eu sei que os tempos mudaram e talvez você não consiga compreender o efeito desse vídeo sobre a minha pessoa, mas ele foi de extrema importância para a formação de um sonho bastante peculiar: conhecer todas as Disney no mundo.

Destino: Orlando

Agora que você tem esse background, vamos ao que interessa: a minha primeira viagem internacional, que aconteceu em abril de 2010. Era o começo da realização de um sonho e também a origem dos perrengues que estariam por vir, rs. Pensa numa criatura que pesquisou e leu tudo que era possível sobre Orlando, que fez tabela de parques, atrações, hotéis, restaurantes, etc. Pacote comprado, tudo pronto: passaporte, visto, malas e a ampla experiência de quem viajou uma única vez de avião (viagem de formatura para Florianópolis). E junto comigo o Victor, na época ainda meu namorado, que já tinha ido para a Disney aos 10 anos de idade e tinha como única lembrança as filas eternas de mais de 3 horas. Imaginem se ele não estava animadíssimo! Amor que chama, né?

Pois bem, vamos que vamos porque nessa época o terminal 3 do aeroporto de Guarulhos era apenas um sonho e os nossos celulares tinham, no máximo, teclado numérico e olhe lá. Smartphone em 2010? Acho que nem existia ainda. Mas quem precisa de tecnologia quando se tem vontade? Hahaha – rindo de nervoso.

Você, doce criatura que me lê, já teve a oportunidade de viajar para os Estados Unidos e sentir a sensação única de medo absoluto no processo de imigração? Ah meu bem, 10 anos depois dessa viagem e eu te digo que se tem uma coisa que ainda me deixa tensa é passar pela imigração. Não, eu não estava fazendo nada de errado e nem transportando plantas ou animais, mas é uma sensação de que você será punido só por existir. Pois bem, estou na filinha, com o passaporte na mão e a cara amassada de quem não dormiu por causa da ansiedade nas quase 8 horas de voo. Eis que uma policial me chama.

Pronto, morri. Saio da fila e ela me pede para abrir a mão. Quase fazendo respiração cachorrinho para não enfartar, apenas  obedeço. Ela passa um papelzinho retangular na minha mão (muito parecido com aqueles papeizinhos para checar diabetes), coloca em uma máquina e pronto, fui presa! Não, mentira! Hahaha… Era só para dar um ar de suspense. Ela sinaliza que posso voltar para a fila – ótimo, nessa altura metade de mim já tinha desmaiado de tensão. Algumas perguntas na imigração, tudo tranquilo, afinal, passei dias ensaiando as respostas para todas as possíveis perguntas da imigração e não dar nenhum B.O. Ótimo, partiu Disney, partiu Mickey!

No meio do caminho tinha uma pedra, digo, um pedágio

Chegamos em Orlando e fomos buscar o carro de aluguel. É mais ou menos aqui que o ímpeto de economizar e os perrengues se encontram. Pois bem, nos EUA (e talvez em outros lugares do mundo) o jovem motorista vai precisar pagar pela falta de experiência. Descobrimos que o Victor teria que pagar um adicional por não ser maior de 26 – e não, não estou falando de uma taxa extra, estou falando de literalmente o dobro do preço do aluguel do carro por ter uma idade considerada “de risco”. Isso foi suficiente para limitar o aluguel do GPS – como te contei, na época o smartphone não tinha chegado na nossa casta, logo, o Waze nem existia, assim como as centrais multimídias nos carros. Então tá, não sobrou grana para o GPS, vamos na fé, na coragem e na habilidade (ou falta de) em interpretar um mapa.

Já dirigiu numa interestadual em Orlando? Se para alguns dirigir nas estradas do meu Brasil já é tenso, imagine nas estradas da gringa? Pois bem, nela estamos, perseverantes de que vamos chegar no nosso hotel em alguns minutos. Eis que no meio do caminho surge uma pedra, digo, um pedágio. Mores, pedágio é a mesma coisa em todo mundo, certo? Errado! Chamados de “tolls”, nem todos os pedágios dos EUA têm uma pessoinha em uma cabine para receber o seu suado dinheirinho.

Nos deparamos com uma espécie de sacola grande e uma plaquinha que dizia “only coins”. Nessas horas a gente dá graças a Deus pela escolinha de inglês. Mas e o valor? Não tem plaquinha com o valor. E que moeda se a gente acabou de chegar e nem trocamos dinheiro ainda? Bom, vamos jogar uma notinha nessa sacola e vai ficar tudo bem? Verdade, vai mesmo, mas só até voltarmos para a Brasil e recebermos a cartinha com a multa. Mas seguimos. Já aflitos, mas seguimos.

É aqui que eu te falo que na escola ninguém ensina a possibilidade de ter vários hotéis com o mesmo nome – popularmente chamado de rede! “Ah, Natasha, deixa de ser tonta, isso é óbvio!”. Criança, embarca na minha humilde inexperiência, eu não fazia ideia dessa possibilidade. Pois bem, depois de ir e voltar na mesma rodovia, gastar metade do combustível e do cérebro, encontramos um hotel que, para mim, era o nosso. Vou até a recepção e a moça logo me avisa que eu estou na unidade errada. Ixi, moça, sério? Certo, mas já que estamos aqui e tem um parque na frente, vamos lá, né? Claro, por que não deixar as malas no carro e esquecer que precisamos de um GPS? Ótima ideia.

Waze? Google Maps? Nunca ouvi falar

Então passamos um dia lindo de aventura e felicidade no Sea World. Viva! Fim do dia e voltamos onde paramos – um carro num estacionamento, sem GPS e sem a menor ideia para que lado estava o nosso hotel. Com um adendo: o escuro, pois já tinha anoitecido. Ótimo, vamos em busca da loja famosa de eletrônicos nos EUA para comprar um GPS, como que chama? Ah, Best Buy! My friend, Orlando está longe de parecer São Paulo. Apesar de imensa, não é em toda esquina que você encontra um comércio ou coisa do tipo. Procuramos e não achamos.

Recorremos a um taxista perguntando por uma Best Buy, e ele gentilmente explicou o caminho, algo parecido com: first left, third right, left after the traffic light, right again… Ou era left again? Não sei. Era para chegar na Osceola Parkway, seja isso o que for. Vamos na fé e na coragem. Uma hora depois lá estava aquele letreiro que mais parecia um sonho azul e amarelo. Santa Best Buy. GPS comprado, hora de finalmente ir para o hotel – dessa vez, o certo! Rs.

E os dias seguem, maravilhosos e únicos, como costumam ser as realizações de sonhos. A sorte de conhecer um dos lugares mais divertidos do mundo (sim, para quem gosta de parques temáticos) numa época de baixa temporada, superando a memória de 3 horas de fila que o Victor tinha quando viajou para lá na primeira vez. Mas nem só de parques uma viagem é feita, então vamos as comprinhas.

Uma arara, uma câmera fotográfica e um golpe

Em 2010, a moda era ter máquina fotográfica digital, e o Victor queria comprar uma nova para a mãe dele. Certo, poderíamos voltar na Best Buy – mas não, pera, parece que alguém quer economizar ainda mais, mesmo com o dólar a R$ 1,88 (ah, que sonho, heim?). Vamos então à famosa rua de comércio da região, conhecida como International Drive e descrita por vários blogs como o paraíso das compras. É, talvez a minha definição de paraíso seja um pouco diferente da dos blogs de 2010… Mas tudo bem, lá estávamos nós, andando entre lojinhas de suvenires, pelúcias de Mickeys que pareciam ter tomado uma surra e estavam com as orelhas tortas, copos e chaveiros com a tinta descascando, uma verdadeira maravilha.

Eis que meu nobre namorado resolve entrar numa loja com uma arara na porta. Uma arara viva, de verdade. Não sei para você, mas não me parece ideal uma arara morar na porta de uma loja na International Drive no meio da Flórida. Para o Victor, amores, parecia. Então ele entrou e pronto, caiu na lábia do vendedor que eu já tinha percebido logo de cara – quem tem um pássaro desses na porta do estabelecimento? Minha veia de detetive tinha apontado algo errado. A do Victor não. E ele saiu da loja com uma máquina fotográfica digital, sem caixa, sem garantia, sem cabo para carregar e uma grande economia de um dólar se comparada com qualquer câmera da Best Buy. É amigos, a vida tem dessas né, mas tudo bem, porque se a máquina digital era bonita, era o que precisávamos para alegrar a minha sogra – pena que alguns dias depois a câmera já não estava mais funcionando. Mas tudo bem, tudo ótimo, nada mais pode dar errado! Ou não…

Por fim, um motel-hotel de beira de estrada

Contei para vocês que pesquisei tudo, planejei tudo, reservei tudo, certo? Então, esqueci de comentar que a nossa volta seria pelo aeroporto de Miami e que teríamos que passar uma noite na cidade. Se os filmes e séries mostram aqueles “Motéis-Hotéis”, não seria difícil encontrar um desses em Miami, certo? Doce ilusão. Depois de 3 horas de estrada e o coração apertado por deixar a Disney para trás, estávamos nós observando o que Miami oferece em um sábado à noite e procurando um hotel. Pois bem, te conto que em Miami Beach não existia uma diária que não fosse o valor de 1/3 da viagem. A cada minuto nos afastávamos mais e mais da cidade e nada. Até que encontramos um motel-hotel de beira de estrada por 50 dólares a diária.

Abrimos a porta do quarto: medo. Carpete rasgado e sujo, uma decoração anos 60, um cheiro estranho semelhante a bicho morto e uma sensação de máxima insegurança. Ok, só uma noite, só uma noite, eu tentava pensar para me acalmar. Depois de ler milhares de relatos de bed bugs em hotéis dos EUA, logo achei que encontraria um deles na cama, mas como quem procura, acha, vamos simplesmente dormir de moletom com capuz, calça e meia no calorzinho da primavera da Flórida. Deitamos na cama e rezamos para ninguém entrar no quarto, levar nossas malas ou roubar nossos órgãos – na minha imaginação, essa questão de roubo de órgãos me parece muito real desde a infância, quando ouvia relatos dos palhaços que roubavam órgãos de crianças nas escolas… E dizem que Fake News é coisa da modernidade.

Quem precisa de uma ótima e despreocupada noite de sono antes de uma viagem de 8 horas de avião? Segue o baile, porque acordamos com as malas intactas – e os órgãos também, ufa. Embarque ok, voo ok, desembarque ok, seguido de um frio na barriga ao passar pela Polícia Federal em São Paulo – mesmo sabendo que a coisa mais cara que comprei na viagem foi uma máquina fotográfica digital quebrada e o famigerado moletom da GAP (um clássico).

Chego em casa. Primeira parte do sonho concluída com sucesso – e algumas horas perdidas na estrada, uma multa e uma noite de terror no motel fantasma. Aquela sensação de gratidão ao mundo por essa conquista e essas lembranças maravilhosas que me fazem rir mesmo 10 anos depois de terem acontecido.

Viu? a minha viagem perfeitamente planejada teve os seus empecilhos. E o que eu acho disso? Maravilhoso! Perrengues formam caráter, meu bem.

Por hoje é isso – tudo isso. No próximo texto te convido a embarcar na minha segunda viagem ao exterior do outro lado do mundo. Ficou curioso? Então fica espert@ aqui no Camille Pelo Mundo.

 

Um beijinho no seu coração viajante

 

 

 

 

 

 

 

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