Quem disse que do outro lado do mundo não tem perrengue?
Olá amigos andarilhos da Camille, tudo bem?
Estão lavando a mãozinha? Usando a máscara? Ótimo.
No último texto de perrengues, contei para vocês sobre a participação ativa do meu marido mão fechada na criação de situações desconfortáveis das nossas viagens, certo? Pois bem, a história de hoje traz o relato de uma viagem a trabalho, ou seja, os perrengues aqui não foram causados pela avareza dele, rs.
E eu sei que você deve estar achando que eu fui logo ali, no Rio, em Curitiba ou em Porto Seguro. Não mores, eu fui logo ali, na China. Era 2011 e até então eu colecionava o total de uma viagem ao exterior – a experiência mandou um salve. Mas lá fui eu para uma das viagens mais emocionantes da minha vida, afinal, vamos para um país que não é amigável com o Google – incluindo Gmail, Facebook e outras formas de comunicação. Mas tudo bem, o que vale é a experiência e a oportunidade de conhecer um lugar incrível.
Começo essa jornada com zero perrengue, afinal, vamos de executiva. E não é qualquer executiva, é a “business class” da Emirates. Ficou com invejinha, né? Eu sei, e você está cert@ de ter esse sentimento, porque é mesmo tudo o que falam e mais um pouco. Mores, imaginem vocês que eu sou aqui uma pessoa da classe média – privilegiada, sim, tenho noção disso – mas que nunca teve assim um amplo contato com o luxo que existe no mundo. Já ouviu a expressão “feliz como pinto no lixo?”, pois bem, eu era o pinto na Sala Vip do aeroporto de Guarulhos. Passagens na classe executiva dão direito à entrada nessas salas chiques, cheias de comidinhas, bebidas e poltronas confortáveis. Eu trocava fácil a minha casa por uma Sala Vip. Me julguem.
Would you like some sparkling wine?
Pensem numa pessoa que comeu todos os docinhos – “de graça” né, mores? Vamos comer tudo o que tem nesse lugar. Mexi em tudo, olhei tudo, experimentei de tudo um pouco. Transbordei o café da xícara, já que a máquina era muito fina para a minha inteligência. Fui no banheiro lavar a mão umas 5 vezes só para sentir o cheirinho maravilhoso do sabonete chique. Aproveitei. Muito.
Mas vamos embarcar. Com toda a minha experiência de viagens internacionais, eu não tinha IDEIA de que a Business tinha prioridade no embarque. Uma coisa linda de viver. Levanto eu, com a bolsinha no braço, e sigo para o embarque. Chego plena no meu lugar. Não, pera, isso não é um assento, isso é meu quarto inteiro em forma de classe executiva. E é aí que os perrengues começam. A aeromoça olha para a minha cara e diz “Would you like some sparkling wine?”.
Enquanto isso, na minha mente: “Hum, será que é de graça ou será que tem que pagar? Porque se eu tiver que pagar, certeza que vou ter que vender a casa dos meus pais. Na dúvida, vamos recusar”. Digo não e fico ali, olhando e admirando a tecnologia da indústria aérea. A pessoa que estava comigo pergunta “Nossa, você não vai mesmo pegar um? Está uma delícia”. Eu, na inocência dos 24 anos, pergunto, “Mas paga?”. Claro que a resposta que segue é um “não”, então vamos de espumante. Minutos depois, ainda com as pessoas embarcando, me servem um potinho com “nuts”, conhecidas pela minha pessoa como nozes. Uma delícia.
Em seguida, chocolate Godiva. A gente nem tinha decolado e a viagem já estava maravilhosa. Pensem numa pessoa que comeu chocolate durante todo o voo. Pois bem, eu. Então recebemos uma nécessaire com itens de higiene, meias de compressão, um tapa olhos e adesivos em cores diferentes que seriam para sinalizar se a equipe de bordo poderia ou não te acordar para te servir as refeições. Na classe rica, as refeições são abundantes. Tem até cardápio! Lindo. Chique.
Continuando, vamos aproveitar que o leito de quase 1,70 deita completamente e dar uma descansada – eu estava mesmo me sentindo a Sarah Jessica Parker, no segundo filme do Sex and the City, indo para Dubai. Ah sim, estamos indo para lá mesmo. Escala né mores. Mas espera, vamos perder as refeições? Não quero perder nada nesse avião. Então eu pego a cartelinha de adesivos e começo a pensar “onde será que tenho que colocar isso?”. Resolvo colar na venda dos olhos. Claro, faz todo sentido, só que não. Até hoje eu penso como deve ter sido divertido para as aeromoças olharem para a tonta aqui e um adesivo colado na testa, sobre a venda dos olhos. A pessoa que não sabe lidar com a riqueza né, que perrengue.
Uma sala vip e 20 barras de chocolate
Mas tudo bem, chegou a hora de dar tchau para esse avião maravilhoso e desembarcar em Dubai, que tem um aeroporto gigantesco e lindo. Como a escala é de 5 horas, por que não aproveitar a Sala Vip daqui? Sim, quem vos escreve é chocólatra. Depois de 20 barras de chocolate Godiva no avião, decidi aproveitar as comidinhas e mais docinhos da sala. Não preciso nem te dizer que isso terminou no banheiro, né? Mas vou te contar que em banheiro rico, o perrengue é menor, é até prazeroso! Hahaha oversharing, mals. Mas tudo bem, seguimos para o embarque do próximo voo.
Entro no avião e a aeromoça diz que o meu assento fica na fileira à direita, subindo as escadas. Vixe, será que comi tanto chocolate a ponto de estar alucinando? Que escada, gente? É, nesse avião tinha escada. Uma escada imensa. Eu queria muito ter filmado esse momento de subir escadas em um avião. Nunca imaginei isso na vida. No andar de cima recebo auxílio para achar meu lugar e um aeromoço pergunta se pode pegar meu casaco. Vamos voltar para a minha mente: “Mas o que ele quer com o meu casaco? Credo, quer pegar as coisas dos outros”. Percebendo a minha cara de desconfiada, ele logo explica que vai guardar o casaco na chapelaria. E eu ia lá saber que tem chapelaria em avião agora, gente?
Sento no meu lugar e começo a perceber que a tecnologia desprendida aqui é outra, é ainda mais aprimorada. Tem um frigobar só para mim. Acabamentos em madeira e dourado, uma mesa quase do tamanho da que eu tenho em casa, uma televisão maior que a do meu quarto. Nesse momento posso até não ser a Sarah Jessica Parker, mas sou pelo menos uma perna dela, tenho certeza. Aproveito tudo que esta classe tem para me oferecer e em determinado momento me levanto para ir ao banheiro. Caminho pelo corredor e chego num bar. Esfrego os olhos com força para ter certeza que não estou alucinando. Um bar. Não sei te descrever a emoção que é ter um bar no final do corredor de um avião. Já que estamos aqui, vamos beber e comer pois ainda temos mais algumas longas horas de voo. Vida dura.
The Great War
Chegamos em Pequim. Ótimo. Se a imigração dos Estados Unidos mete um medo, imaginem a da China. Mas confesso que foi tranquilo, e rapidamente encontramos a nossa guia. Já era tarde e na van ela avisa: “tomorrow we are going to visit the great war!”. Vixe, grande guerra? Não moça, não quero guerra, eu sou da paz. E vai a pessoa dormir com essa preocupação e acordar com a tensão de uma noite mal dormida e um tal de jet lag que eu achei que só dava em gente rica.
Entramos na van e fomos lá visitar a tal da grande guerra. O idioma, mores, pode gerar perrengues gigantescos na vida as pessoas. Desço da van e deparo com nada mais, nada menos do que Muralha da China, conhecida como “Great Wall”, claroooooooo! Aff, Natasha, aff.
Depois de visitar uma das sete maravilhas do mundo e me encantar profundamente pelo lugar, seguimos para um restaurante. Aqui chega o momento de dividir com vocês o que pode ser um dos meus piores defeitos e também causador de grandes perrengues: tenho paladar infantil. Não gosto de quase nada, não sei apreciar frutos do mar, não sou fã de carnes, legumes e verduras. O que sobra basicamente é o bom e velho prato de arroz, feijão, carninha e batatinha ou um prato de macarrão, um sucesso no menu kids.
O ponto é que rejeitar comida não é nada bonito, e em países como a China isso pode ser considerado uma ofensa. É aí que surge a ideia de falar que tenho “sea food restrictions”, restrições a frutos do mar. Acontece que na China se não é carne de porco, é arroz, ou, claro, alimentos vindos do mar. Imaginem a pessoa aqui dizendo em todos os restaurantes que tem tais restrições e basicamente comendo arroz e, vez ou outra, uma carninha de porco, e lámen.
Mas ainda bem que alguém muito sagaz criou nos hotéis chiques o café da manhã ocidental. Para mim, também conhecido como vida. Sim, porque basicamente o café da manhã se tornou a minha principal refeição do dia. Imaginem a cena: quatro pães de forma, todos os tipos de queijo, omelete, muffins e donuts. Uma refeição leve e equilibrada.
Próxima parada: Shenzhen
Viagem que segue e tínhamos um voo que iria nos levar à Shenzhen. Voo local e não temos aqui a oportunidade de viajar de executiva – olha eu já mal acostumada. Mas está ótimo. Embarque tranquilo e vamos aguardar a decolagem que vai acontecer em 20 minutos, 30 minutos, 50 minutos, e eu derretendo dentro de um avião lotado (tudo na China é lotado). E quem disse que voos locais tem instruções em inglês? Nessas horas é segurar na mão de Deus, porque simplesmente não te resta outra opção. Foram 2 horas sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo. As pessoas começaram a levantar e sair do avião. Bom, eu que não vou ficar, né? Vamos seguir a multidão e torcer para ir parar no lugar certo, avião certo e chegar com as malas certas. Novo embarque feito, decolagem rápida e chegamos em Shenzhen. Obrigada, mundo.
Chego no hotel e fico em estado de êxtase. Um quarto gigantesco, uma cama que eu não tenho lençol grande o suficiente para cobrir, um banheiro com duas cubas (óbvio que eu usei uma por dia! Hahaha), detalhes em dourado e uma vontade de levar um teco dos revestimentos para casa, como lembrança de uma riqueza que talvez nunca mais fosse vivida! Olho para a banheira e vejo um controle remoto. Hum, curioso, será música ambiente? Aperto o botão e surge uma televisão atrás do espelho que fica em volta da banheira. What????? Na minha mente: “não vou sair desse hotel, vou morar aqui”. Aproveito tudo que aquele ambiente pode me proporcionar de maravilhoso e vou deitar, mas antes, vamos fechar os quatro metros de cortina da janela que fica em frente à cama. E puxa, e puxa, e nada. Estou quase arrancando o tecido do trilho e decido desistir. Vai que eu rasgo a cortina e tenho que pagar. Deito na cama e ocupo 10% do espaço dela. Coloco o celular para carregar na cabeceira e vejo um botão. Ah, melhor não apertar né. Ah, mas por que não? Apertei e tchanan! Cortinas fechando automaticamente! Existe a minha vida antes das cortinas automáticas e uma vida nova, pós cortinas automáticas! Hahaha.
Uma classe executiva, uma tag de cupcake e uma mala (quase) roubada
Fiquei três maravilhosos dias nesse hotel. Das quatro cidades que visitamos, esse sem dúvidas superou qualquer expectativa. Depois de mais de 20 dias na China, hora de fazer as malas – com a mala nova, já que a outra quebrou no meio da viagem. Uma mala vermelha, simples. Embarcar de volta para casa não foi nada perto de um perrengue, afinal, 24 horas de voo dividido por uma escala em Dubai, na classe executiva, é melhor que a cama da minha casa. Dessa vez, sem colar adesivo na testa feito tonta.
Desembarco no terminal 2 do aeroporto de Guarulhos (na época ainda não existia o terminal 3) e fico na espera da minha bagagem na esteira. Vai mala, vem mala, e nada da minha malinha vermelha novinha. Eis que olho do outro lado da esteira e vejo uma mala IGUAL a minha no carrinho de um moço. Tudo bem, todo mundo tem direito de ter uma mala vermelha né. Mas calma, deixa eu dar um “zoom” aqui com os olhos para ter certeza que não é a minha. Então vejo a minha tag de cupcake penduradinha. Ai minha nossa, é a minha mala! Saio correndo para não perder de vista o outro que está com o meu pertence. Traumas foram criados. Por isso amig@s, quando falam para você fazer um carnaval na sua mala, estão falando para o seu bem. Pendure fitas, cole adesivos, coloque capinhas, mas faça o possível para tornar a sua mala o mais diferente e chamativa possível. No meu caso, fui salva pelo cupcake mesmo, quem diria, justo a tag de um docinho. Voltei para casa aliviada e com a mala cheia de boas histórias e alguns bons perrengues!
Gostou? Então fica esperto que logo nós vamos voltar para a Terra do Mickey.
Um beijinho no seu coração viajante.