A Lua de mel que quase virou um pesadelo
Oi amigos andarilhos da Camille!
Tudo bem? Continuam se cuidando direitinho? Ótimo.
E cá estou de volta para contar os perrengues da minha terceira viagem internacional. Eu sei que vocês ficaram mal acostumad@s com os luxos da viagem anterior, para a China, mas nessa aqui a gente volta a embarcar com o meu doce marido. Contudo, por incrível que pareça (hahaha), o pior perrengue dessa viagem não foi causado por ele, tadinho.
Antes de embarcar nessa, acho melhor dar uma contextualizada no período que esses perrengues aconteceram. Ano de 2012 (virge, credo, parece memórias póstumas. Sai COVID-19), um ano lindo da minha vida pois foi quando me casei. A Lua de Mel? Me perdoem, eu sei que Paris é o mais indicado, mas a primeira viagem para a Terra do Mickey não tinha sido o suficiente. Eu estava pronta para usar orelhas de Minnie com véu (o capitalismo pensa em tudo) e comemorar meu casamento no lugar do mundo que, até então, era o meu favorito. Malas prontas e vamos lá! Vamos? Não vamos? Ou vamos? Ai ai ai…
Amig@s, a gente sabe bem que a viagem começa antes de começar. Como assim? É isso mesmo, a viagem começa no momento que você teve a ideia de viajar, ela é todo o processo de economizar, planejar, escolher a melhor época, o hotel, etc. Na época, o nosso amigo Google Flights já existia, mas comprar voos, pacotes, reservas pela internet ainda era um pouco ousado e mais caro do que com uma agência de turismo. Pois bem, recebi uma indicação e lá fui eu entrar em contato com essa agente de turismo que me atendeu muito bem e conseguiu o hotel que eu queria, voos diretos, ingressos dos parques da Disney, tudo certinho e perfeito. Agora eu estava experiente, era a minha segunda vez em Orlando e Miami (sim, eu queria apagar a má impressão do motel-hotel do terror – da primeira história contada aqui ), e em um momento muito especial da minha vida. Certo.
Quem avisa amigo é
Uma vez um amigo me falou: “quando você comprar uma viagem por meio de agência ou algum agente de turismo, a primeira coisa que você tem que receber são os vouchers da sua reserva de voo, hospedagem e tudo mais que tenha contratado”. Na vida, tem gente que sabe o que diz. Esse amigo tinha uma experiência ampla com viagens, mas eu, com os meus dois carimbos no passaporte, achava que já sabia tudo.
Se você já está sofrendo, levanta e busca um copo d’água e quem sabe um lenço. Pois bem, viagem paga e tudo que eu mais fiz uma semana antes do embarque foi cobrar a tal agente dos vouchers e nada. Um frio na barriga começou a surgir em mim a cada dia que a viagem se aproximava.
Pausa para uma observação: casei em fevereiro, mas decidi esperar um mês para fazer a lua de mel. Uma parte de mim acredita que fiz isso para esperar ver o que eu ia precisar comprar de “coisas para casa” lá na gringa. A outra parte se chama Victor e me convenceu a viajar em março porque era consideravelmente mais barato.
Estava tudo certo para viajarmos na sexta-feira. Aquela maluquice maravilhosa de sair do trabalho e ir para o aeroporto em plena sexta à noite, no auge do trânsito enlouquecedor de São Paulo. Tem gente que paga mesmo para sofrer. O esquema estava pronto e as malas também. Só me faltavam os vouchers. Coisa pouca. Depois de insistir um milhão de vezes, finalmente a moça me manda as passagens – ótimo, está tudo certo! Não tem como dar errado.
Spoiler: tinha sim como dar errado
Quinta-feira, véspera do embarque, chego em casa e me deparo com um marido semi-morto, quase sem ar, que me diz: “liguei na companhia aérea, as passagens não são verdadeiras e não existe qualquer reserva no nosso nome”. Pânico. Mores, pensa num sofrimento? Pensa que já tínhamos feito o pagamento da viagem, que compramos coisas (muitas coisas) que estavam para ser entregues no hotel de Orlando, que já tínhamos acertado as férias no serviço e de repente tudo isso vira uma fumaça. Mas calma, respira fundo e continua me lendo.
Fui trabalhar na sexta, seguindo o plano e acreditando que naquela noite estaríamos em um avião. E claro, ligando para a moça sem parar. Até que, por volta das 10 horas da manhã, completamente virada, porque obviamente eu não consegui dormir de noite nem por um segundo, uma parente da agente atende o telefone e tenta me explicar uma situação complicada que a moça estava passando e que, ao que tudo indicava, nada do pacote que eu tinha fechado tinha sido reservado. Pá. Morri.
Quem tem amigos, tem tudo. O ditado é clichê, mas é a mais pura verdade. O mesmo amigo que me deu a dica de pedir os vouchers logos após a compra (e eu não ouvi) foi a pessoa que conseguiu reverter essa situação (aaaa, voltou a respirar, né?). Ele conversou calmamente com a tia da moça – como bom viajante, ele sabia quais eram os meus direitos e as regras do jogo para agência de viagem. Foram horas de conversa, enquanto isso eu estava saindo do infarto e entrando no AVC, mas finalmente ele conseguiu um acordo: receber até o final do dia o valor da viagem NA ÍNTEGRA e uma carta assinada pela agente de que os custos adicionais com a viagem de última hora seriam bancados por ela.
Oi? Viagem de última hora? Pois é, mores, quem tem experiência, tem tudo. E quem tem um agente de viagens realmente porreta tem tudo e tem a solução. Meu amigo, que diferente de mim, manteve toda a calma do planeta, reservou um novo voo, saindo na noite daquele exato dia e os hotéis de Orlando e Miami – coisas que eu precisava ter antes de sair do Brasil. Aluguel de carro, ingressos de parques? Isso eu ia ter que cuidar chegando lá, mas dos males, o menor.
Mais uma vez na Terra do Tio Sam
Depois de gastar o F5 para checar o extrato do banco e ver o dinheiro do pacote cair na minha conta, saí correndo com o Victor para o aeroporto. Eu te conto que o lugar mais feliz do mundo para mim é na poltrona de um avião. Mas nesse dia, esse foi o lugar de maior alívio da minha vida. Depois de passar uma semana agonizando por vouchers, de descobrir que as passagens eram falsas e passar noite em claro, e descobrir, finalmente, que a minha tão sonhada lua de mel tinha se perdido e nos últimos minutos acabou sendo encontrada, amig@s, aquela poltrona era o meu lugar de gratidão no mundo por ter uma pessoa na minha vida capaz de resolver, sem dúvida, o maior perrengue que eu já passei na véspera de uma viagem.
Depois de dormir o sono dos justos e uma escala, lá estávamos nós, na Terra do Tio Sam mais uma vez, desembarcando em Miami e indo pegar um carro de aluguel, mas dessa vez sem ter que pagar adicional pela juventude. Também tínhamos a garantia de um hotel em Miami Beach que certamente apagaria de uma vez as memórias ruins do hotel-motel. Certo? Errado, bebê. O Google mostra que hotel bom naquela região iria me custar um dinheiro jamais visto na minha conta. Mas estávamos lá e qualquer perrengue seria pouco perto do que eu já contei – mas perrengue é perrengue né. Que sensação sensacional entrar num quarto de US$ 300,00 a diária e observar a nada preservada decoração anos 50, com uma poltrona rasgada, lençóis suspeitos, banheiro bem, bem, bem velho. Ah, o hotel-motel mandou um salve. Mas tudo bem, estávamos e lá e lá passaríamos os próximos 3 dias. Que o senhor nos proteja dos bed bugs, amém.
Eu sei que você que me lê, na altura da narrativa, já perdeu a vontade conhecer Miami, né? Mas sério, tira esse sentimento de você, porque eu te juro que a cidade tem peculiaridades que precisam ser vistas presencialmente, como uma pizza gigante. Eu não sei vocês, mas eu amo pizza e estava faminta no meu primeiro dia pós-recuperação do golpe da Lua de Mel. Não comprei apenas um, mas dois pedaços da tal pizza gigante que mal cabiam no prato, era lindo de ver. Devorei tudo em menos de 20 minutos, como se nunca tivesse visto comida na vida. O Victor, que conhece a minha capacidade máxima de armazenamento de alimentos, ficou admirado com tamanha fome.
Seguimos para o hotel onde os efeitos de um dos sete pecados capitais estaria me esperando de braços abertos: a gula. Passei a madrugada conversando com os dois pedaços de pizza e, desculpe a nojeira, os eliminando de dentro de mim. Meu recém-marido segurando meus cabelos e eu abraçada na privada nojenta dos anos 50. Welcome to America, darling. É isso que chamam de “honeymoon”?
Depois de dar tchau para os pedaços de pizza e decidir que definitivamente não tem espaço em mim para tanta comida, decidi ser mais cautelosa durante todo o resto da viagem. Melhor não dar chance pro azar, não é mesmo?
Passagens perdidas, reservas perdidas, notebook perdido? Check, check, check
Seguimos viagem para Orlando, chegamos no hotel e recebemos a excelente notícia de que praticamente tudo o que a gente tinha comprado tinha chegado, só estava faltando o notebook. Claro, né, porque não comprar uma coisinha dessas online e mandar entregar no hotel? Se você faz isso na sua casa, porque haveria de ter algum problema de fazer o mesmo num lugar que você não conhece ninguém e até 5 dias atrás nem tinha reservas no seu nome? Tenso. Mas tenhamos paciência.
Aproveitamos muito a lua de mel na Disney sem desperdício, levando sempre para os parques um tapué com o que tinha sobrado do jantar no dia anterior. Um beleza abrir um pote no meio de uma praça de alimentação com comidinhas fresquinhas! Ah, Victor, a gente casou, né? E a Gula deu lugar para a Avareza! Hahaha. Mas tudo bem, tudo estava ótimo. Para ficar perfeito, só faltava o notebook mesmo. Tá pago né, é do nosso direito recebê-lo.
No site da Best Buy já constava que o pedido tinha sido entregue. Esperamos, esperamos e esperamos e, no finalzinho da viagem, fomos até o lobby do hotel bater um papo com a recepcionista e checar a boa vontade dela em atuar como detetive do complexo de três hotéis em que estávamos hospedados. Uma hora de ligações da moça para as recepções para checar se haviam recebido uma encomenda em nosso nome. Naquela altura, eu já estava tentando me conformar que íamos voltar para casa sem o note mesmo e vida que segue. Não dá para ganhar todas, né?
Mas eu te digo que depois da poltrona do avião, o segundo melhor momento dessa viagem foi ver um moço entrando no hotel com uma caixa retangular nas mãos e entregando-a para a nossa recepcionista-detetive. Eu queria dar um abraço nele. Por que passar por um frio na barriga se você pode passar por vários? Mas resolvido, notebook novo em mãos, agora é só curtir restinho da viagem.
Um voo perdido, algumas malas extraviadas e um frio na barriga na PF
Hora de dar tchau para o Mickey e embarcar para o Brasil. A passagem de volta tinha escala em Washington, tranquilo. Embarque feito, chegamos na capital dos Estados Unidos e fomos correndo para o portão de embarque do outro voo. Chegando lá o desespero toma conta de nós. O voo foi cancelado. Ninguém sai! Como assim? Pois é, mores, coisas da aviação. Mas com calma e paciência (eu sei que nem sempre dá para ter esses dois elementos) é possível chegar em um acordo. Uma funcionária da companhia aérea conseguiu realocar a gente em um outro voo, no mesmo dia. Perfeito. Partiu Brasil.
Chegamos em Guarulhos, mala vai, mala vem. Não sei vocês, mas essa parte da esteira é tão tensa para mim quanto a parte da imigração. Quase uma hora depois e era isso, nada de malas. Nos dirigimos ao balcão de atendimento para ver essa questão e nos foi explicado que realmente as nossas malas tinham ficado em Washington, uma vez que o nosso voo tinha sido cancelado, e que elas chegariam no dia seguinte, no próximo voo para o Brasil, e seriam enviadas para a minha casa. O que te resta é acreditar que tem algum Santo, protetor de malas, que vai guiar suas bagagens por caminhos iluminados até você.
Quando achei que já estava tudo resolvido, o moço completa “mas vocês precisam passar pela Receita Federal e assinar um termo afirmando que não tem nada que precisa ser declarado e taxado dentro das malas”. Ah, que beleza. Mas ok, não tenho 5 PlayStations e a Maísa nas malas. Suave.
Ele nos acompanha até uma sala onde uma pessoa da Receita pede para que as malas de mão sejam colocadas no raio x. Ué gente, não era só assinar um termo? Nunca é, né. Malas passando na máquina e o moço pergunta “Tem alguma coisa aqui que passa de $500 dólares para cada pessoa?”. Respondemos que não, ele olha na tela vê passando um notebook, nossos celulares (comprados no Brasil), uma máquina fotográfica, um iPad e o meu desespero. Ele levanta e vai chamar uma pessoa em uma outra sala. Na minha cabeça: pronto, seremos presos. Devem ter colocado substâncias ilícitas nas nossas malas, certeza.
Chega um senhor alto, olha para a nossa cara e gentilmente pede para abrirmos as mochilas e tirarmos tudo de dentro dela. Ele pergunta do iPad e respondo que comprei na China. Pergunta do notebook e o Victor responde que comprou nessa viagem. Olha os nossos celulares, mas percebe que é coisa humilde. E então pergunta: “o que tem nas malas que vão chegar amanhã?”. Eu começo a responder com toda sinceridade do mundo: “Brusinhas, frigideira, tapete, toalhas de banho, uma torradeira, capacho…”. Ele me olha com cara de “pobre na gringa é uma desgraça”, me interrompe e nos libera. Como a viagem nunca termina depois de sair do avião, vamos para casa esperar as malas. E chegaram, viu? Perfeitas, com todas as quinquilharias descritas para o seu moço da Receita Federal.
É mores, isso que é uma lua de mel marcante! Hahaha.
Espero que o texto de hoje tenha provocado um mínimo de curiosidade para o próximo; embarca comigo para Nova York?
Te espero, viu!
Um beijinho no seu coração viajante.