Diário de Viagem de Buenos Aires: três dias na capital da Argentina
Adoro contar os detalhes das minhas viagens por aqui, então sejam bem-vindos ao Diário de Viagem de Buenos Aires! Mas se você caiu de paraquedas nesse post, vou resumir: entre junho e julho de 2014 fiz uma viagem rápida pra Argentina: passei três dias na capital no susto. A viagem foi decidida dez dias antes e sim, foi pouco tempo. Contudo, valeu a pena!
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Diário de Viagem de Buenos Aires
Em primeiro lugar, o que aconteceu desde Guarulhos até Buenos Aires, quando chegamos em Ezeiza, você pode ler aqui.
Dia 1 | Primeiro dia na Recoleta
Quando chegamos ao hotel, o Apart Hotel San Diego, na Recoleta, (falei dele aqui) já passava das dez horas. Portanto, não havia muito o que fazer depois da interminável fila do raio-x. Assim, resumimos nossas primeiras horas na cidade a andar pela rua do hotel e suas adjacências. Com sua estética de um quê europeu que não passaria despercebida.
Mas o passeio durou pouco e acabou quando compramos lanches prontos na 25 Hr! da esquina, uma rede de lojas de conveniência presente em toda a cidade. E voltamos para o hotel.
Lá, só deu tempo de esquentar os lanches na super cozinha do quarto, organizar nossas coisas, tomar um banho e dormir. Porque o objetivo era começar o dia seguinte bem cedo.
Aqui um exemplo de como viajar com pouco dinheiro
Dia 2 | Recoleta, Centro e Feria de San Telmo
Assim, com apenas dois dias inteiros na cidade, madrugamos e rumamos para o centro. E vamos começar esse diário de viagem de Buenos Aires direito! Não sabíamos se dava para ir andando ou se era preciso pegar um ônibus, ou, quem sabe, o metrô. Mas conforme andávamos pela Avenida Santa Fé, a principal da Recoleta, decidimos que longe ou não, iríamos andando para o centro.
Recoleta
Depois de percorrer toda a avenida, permeada por prédios antigos e mais modernos, a impressão é que a Recoleta é uma região tranquila. Onde você esquece do frio porque é gostoso andar pelas ruas. Observar aquelas lojas que você nunca viu antes, e prédios tão bonitos que às vezes te deixam boquiaberto.
Passamos pela Iglesia San Nicolás de Bari, na altura do número 1.300 da Santa Fé, onde crianças e adolescentes, no domingo, tentavam arrecadar doações para a paróquia. Em síntese, a fachada da igreja é bem bonita. A construção cravada no meio de outros dois prédios um pouco mais modernos.
Avenida 9 de Julio
Então, mais um quarteirão e chegamos na Avenida 9 de Julio, a avenida mais larga do mundo, cujo nome remete à data da Declaração de Independência da Argentina, em 1816.
Se às vezes a Recoleta, com todas as suas árvores e ruas mais estreitas, mostra uma cidade mais intimista e tranquila, essa ideia muda drasticamente quando você vira a avenida e descobre a 9 de Julio.
À primeira vista, não há mais tantas árvores para esconder o sol. Alguns prédios ganham fachadas espelhadas. O volume de carros aumenta e com ele, o número de turistas. A metrópole Buenos Aires dá sua cara junto ao Obelisco, visível a muitos metros de distância.
Teatro Colón e Obelisco
Nossa primeira parada foi o Teatro Colón. Uma imponente construção ali no meio da avenida, construída em 1908 e considerado um dos melhores teatros do mundo, contudo, mais uma vez conhecemos apenas a fachada. Que é tão maravilhosa e cheia de detalhes que vale alguns minutos de admiração.
Em seguida, continuamos a caminhada até a segunda e última parada na Avenida: o Obelisco. Ele fica localizado na Plaza de la Republica, entre a 9 de Julio e a Corrientes. Construído em 1936, é um dos monumentos ícones da cidade homenageia os 400 anos de Buenos Aires.
Calle Florida
Dali entramos na Corrientes e por ela seguimos até a Calle Florida. O cenário muda mais uma vez quando você entra no centro. E se os prédios ainda coexistem em uma eterna disputa histórica, o ritmo é mais agitado. Há mais gente nas ruas e o comércio muda de forma extrema.
Se as lojas da Recoleta são mais voltadas ao público local, a 09 de Julio conta com prédios empresariais que pouco dialogam com os pedestres. E a Florida, por fim, é puramente turística.
Lojas de souvenires invadem a rua, de aproximadamente 1km de extensão, junto de marcas mais conhecidas e lojas de câmbio a cada esquina. Se você ainda não se deparou com uma Pharmacity ao longo da cidade, aqui encontrará várias.
O calçadão é repleto de cores. De vozes em espanhol e inglês e português. De cores e de movimento, muito movimento. A quantidade de pedestres é bem grande e às vezes é preciso montar estratégias para andar alguns metros. Eu diria que, em versão bem reduzida, é a 25 de Março portenha em termos de circulação de pessoas.
E aqui vai uma dica: quando mais cedo, menos gente na rua. Essa é a regra. Essas fotos foram tiradas mais ou menos às 10h de um domingo e tudo estava bem tranquilo, como é visível.
Galerias Pacífico
Andando sentido norte você vai encontrar a Galerias Pacífico. Um shopping estupendamente bonito, que ocupa um quarteirão inteiro entre a Florida, a Viamonte, a San Martin e a Córdoba. Identificá-lo é a fácil. Basta perceber que os toldos e placas em vermelho começaram a tomar conta da paisagem.
Se a fachada te deixa boquiaberto, se prepare para o interior do prédio. Com vidros e pinturas no teto, seus olhos entrarão em um looping eterno para acompanhar a beleza do lugar.
Lojas argentinas e internacionais compõem o shopping junto de muitas opções na praça de alimentação. De uma Brioche Dorée a um disputado Freddo, passando por empanadas deliciosas.
Iglesia Santa Catalina e Plaza San Martin
Nossa próxima parada era a Iglesia Santa Catalina de Siena, na Avenida San Martín, e para isso subimos a Florida até a Plaza San Martín. A praça – que na realidade, é um parque -, fica no bairro do Retiro e é dedicada ao General José de San Martín, personagem importante na independência argentina.
Monumento a Esteban Echeverria, escritor argentino
Como era época de Copa do Mundo, a cidade estava toda decorada – como vocês já devem ter reparado -, com inúmeras bandeiras do país, e a praça também estava enfeitada. Depois, seguimos pela San Martin até a Iglesia Catalina de Siena.
Buenos Aires muito me lembrou São Paulo, principalmente o centro da cidade, onde prédios históricos surgem isolados, igrejas tímidas precisam de uma segunda olhada para serem reconhecidas e o ritmo agitado de metrópole às vezes se perde em uma rua estreita e vazia, onde quiçá é possível ouvir pássaros cantando. A igreja em questão é um retrato dessa descrição, mas ela estava fechada e por isso, não entramos.
Turistas lotavam a Florida a poucos metros dali, mas o senhorzinho, sentado na entrada da igreja, lia seu jornal como se aquela manhã de domingo se passasse numa cidade interiorana. A San Martín não é uma avenida tão pacata assim no dia-a-dia, mas era naquela manhã.
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Plaza de Mayo
E essa foi a avenida percorremos até a Bartolomé Mitre, mais uma das ruas vazia num domingo de manhã, emoldurada por prédios antigos.
Enfim, chegamos na Plaza de Mayo, a praça-cartão postal de Buenos Aires, com a Casa Rosada, a Catedral Metropolitana e diversos museus nos arredores. A praça é uma homenagem à Revolução de Maio, de 1810, que iniciou os processos de independência da Argentina e outras colônia sul americanas.
Ela é um ícone tanto para turistas quanto para os moradores da cidade: desde o século XX manifestações políticas têm a praça como palco. E você provavelmente já ouviu falar nas Mães da Praça de Maio, que até hoje se manifestam na frente da Casa Rosada, para manter viva a memória dos seus filhos desaparecidos durante da ditadura argentina (1976-1983).
Um dos marcos da praça é a Pirámide de Mayo, o monumento nacional mais antigo da cidade, que construído em 1811, celebra o aniversário da Revolução da Maio. Ele fica bem no centro da praça, voltado para a Casa Rosada e de costas para o Cabildo e a Prefeitura de Buenos Aires, com a Catedral à sua esquerda e o Museu da AFIP na direita.
Cabildo de Buenos Aires
Catedral Metropolitana de Buenos Aires
Nosso ponto de partida para conhecer a praça foi a Catedral Metropolitana de Buenos Aires. Começada sua construção em 1692, passou por diversas reformas até os dias atuais, quando as informações artísticas e arquitetônicas se mesclam desde a fachada. Sua entrada remete ao estilo neoclássico, enquanto o interior contém elementos do neobarroco, além do neoclássico, com uma nave e uma cúpula.
A igreja é lindíssima e causou em mim tudo o que igrejas sempre causam: estupefação. Sou apaixonada por igrejas e ainda sonho em viajar a Europa visitando todas as igrejas possíveis.
Casa Rosada
Encontramos, enfim, a Casa Rosada, sede do executivo da Argentina, que começou a ser construída em 1882. Chega a ser engraçada e irônica a cor da casa, que mescla o rosa da construção com o verde do telhado e parece uma bela casa de Barbie. Sem mais comentários sobre a sua cor, a fachada é muito bonita e imponente.
É possível visitar a Casa, mas é preciso agendá-la com 15 dias de antecedência, e como fechamos a viagem 10 dias antes do embarque, a matemática foi nossa inimiga.
Avenida Paseo Colón
Com nosso tour pelo centro finalizado, pegamos a Avenida Paseo Colón rumo a San Telmo pra conhecer a famosa Feria de San Telmo nos domingos. Porque amigos, o primeiro dia do diário de viagem de Buenos Aires ainda tá longe de acabar.
Nem o frio nem os prédios antigos são capazes de formar uma atmosfera tão europeia quanto a Paseo Colón consegue. Arborizada do início ao fim, larga e composta por dezenas de parques e praças, a avenida foi a maior e melhor surpresa do dia.
A caminhada é curta, mas tão gostosa que dá vontade de sentar em um banquinho e passar toda a manhã ali mesmo. Fazendo nada.
Focadas em chegar a San Telmo, viramos na Avenida Independencia para depois entrarmos na Defensa, onde logo no começo já era possível ver a feira.
Diário de viagem de Buenos Aires: Feria de San Telmo
San Telmo é um bairro de casarões dos séculos passados e bares a cada esquina – não é à toa que é conhecido como o bairro boêmio de Buenos Aires.
Além disso, sua maior atração turística é a Feria de San Telmo, que começa na Plaza Dorrengo, no centro do bairro, e se estende pela Calle Defensa. Criada em 1970, ela começa às 10h e vai até às 17h, vendendo antiguidades que se misturam com as dezenas de antiquários que rodeiam a região.
Na realidade, a feira mesmo é composta apenas pelas barracas da Plaza Dorrengo, com antiguidades mesmo. Já que os feirantes instalados na Defensa vendem de tudo, desde antiguidades até bijuterias, passando por artesanatos e artistas de rua que dançam tango entre os turistas.
Por fim, já passava muito da hora do almoço e estávamos nós três nos escorando umas nas outras, tamanha a fome. Entramos em alguns restaurantes mais tradicionais mas saímos logo que vimos os preços. Dava para passar um dia inteiro comendo em fast food com o dinheiro que deixaríamos em um almoço.
Fim do dia
Almoçamos na Starbucks mesmo, ali na frente da praça, e o pé de ninguém aguentava mais uma caminhada para turistar: apenas andamos até o metrô mais próximo, a San Juan, da linha C, e voltamos para o hotel.
O jantar foi o miojo do Carrefour do outro lado da rua. E conseguir atravessá-la foi um milagre.
Dia 3 | Caminito, estátua da Mafalda, Cafe Tortoni, Livraria El Ateneo e Recoleta
Seguindo o Diário de Viagem de Buenos Aires, se o dia anterior foi cansativo, tentamos fazer do terceiro o mais tranquilo possível, já que ninguém conseguia andar direito com tantas bolhas nos pés. O plano era ir ao Caminito, passar pela Estátua da Mafalda – que esquecemos no outro dia, almoçar no Café Tortoni e passar a tarde na Recoleta.
Caminito e polêmicas
Logo cedo saímos rumo ao metrô – a ideia era ir até a estação mais próxima do Caminito e de lá, pegar um táxi. Mas com todos os trens lotados nível não dá pra entrar no vagão, desistimos e pegamos um táxi na Santa Fé mesmo.
Chegando lá, eu quase não tirei foto do lugar, que é lindo. Localizado no bairro de La Boca, ele foi massacrado pelas bocas que me contaram sobre ele. “O bairro é perigoso, toma cuidado”; “já fui assaltado lá”; “não anda sozinha!”, entre outros. E como a câmera não era minha, mal encostei nela e hoje, me arrependo muito.
Viajar é ver o outro – e nem sempre vai ser bonito ou agradável
A minha impressão do lugar passou longe de sentir medo ou entrar em desespero. Os arredores do museu a céu aberto mostram uma faceta de grandes cidades que são ignoradas ou repelidas por turistas – e às vezes, pelos próprios locais.
É fácil chegar na capital de um país em desenvolvimento da América Latina e fechar os olhos para aquilo que não agrada tanto quanto as ruas bonitas de Palermo, né? Mas eu não consigo pensar no conceito de viajar como uma oportunidade de ver coisas lindas e ponto final. Viajar é tão mais do que isso que eu poderia ficar o dia todo escrevendo sobre.
Viajar é, também, olhar para os lados para reconhecer o outro. Seja a executiva se equilibrando nos saltos, o caixa do mercado, cansado no fim do dia, e aquele morador de rua que estendeu um copo vazio de café em busca das moedas que você esqueceu na bolsa.
A pobreza de Buenos Aires está ali, junto com a riqueza dos prédios da Recoleta, seja na Villa 31 – icônica comunidade nos arredores de Retiro, seja na região industrial da cidade, perto do Caminito.
O mundo não é um filme da Disney, e as pessoas não são personagens
E ela não é um ponto turístico – aliás, é sempre bom frisar: favelas e comunidades carentes, assim como seus moradores, não são um zoológico. Também não é personagem de Harry Potter para vestir capa de invisibilidade. E muito menos atração de circo.
Mas talvez seja a sua oportunidade de olhar para as casas decadentes e os cachorros abandonados e repensar a cidade. Repensar como ela funciona, suas primeiras impressões, os elogios e o desdém, o que você sabe sobre política, história e cultura do local.
Porque tipificar o lugar como perigoso por conta da pobreza que o cerca, sem reflexões e alguma pesquisa, pode ser problemático, assim como cria uma divisão clara e preconceituosa. A parte bonita, a do museu, é para nós, turistas. Enquanto as ruas ali do lado, sob o viaduto, são para quem mora – e claro, quem não tem dinheiro.
Como seria, então, o histórico dessa região? Como são as taxas de desigualdade na cidade e no país? Existe algum programa social que olha para essas pessoas? Existe saneamento básico ali? Hospitais? Escolas?
Essas questões são muito mais importantes – e levam sua viagem para outro nível de experiência, do que se questionar “será que vão roubar a minha câmera aqui?” Digo por experiência própria. O Caminito é realmente encantador, tem um charme só dele, e depois de passamos pelas casas coloridas, driblamos os dançarinos de tango, que tentam te tirar para dançar o tempo todo – e vão cobrar depois, e compramos souvenires por preços bem mais em conta do que na região da Florida.
De volta a San Telmo e ao centro
Enfim, dispensamos o passeio até a La Bombonera – digamos que minha mãe e minha irmã não gostam tanto assim de futebol, e pegamos um táxi que nos deixou em San Telmo novamente. Foi um passeio rapidinho só para ver a Estátua da Mafalda – Quino morava no bairro -, e conhecer um pouco do lugar sem o burburinho da feira aos domingos.
E para completar o dia de ser turistona mesmo, andamos até o Café Tortoni para almoçar. Ele fica ali perto da Plaza de Mayo, na própria Avenida de Mayo.
Café Tortoni
O café é realmente muito bonito, com a arquitetura e decoração que te fazem viajar no tempo – o café existe desde 1858. Vários objetos e fotografias contam a história do lugar e estão por toda a parte. Desde a entrada até uma pequena exposição nos fundos, e talvez esta seja a mais marcante característica do café.
Já que estávamos na vibe de ser turistonas mesmo, pedimos um clássico bife de chorizo, que estava muito bom, mas como foi o único que provamos, não temos com o que comparar, né?
Eu acho que uma passada no café vale mais a pena para tomar café realmente, seja pela manhã ou no fim da tarde, tanto para economizar. Isso porque o almoço não saiu barato, e também para ornar o ambiente com a comida.
De lá, pegamos o metrô até o hotel (estação Piedras da linha A até a estação Callao da linha D) e o plano era descansar um pouco e visitar o Cemitério da Recoleta, que fica ali pertinho do hotel. Mas nós dormimos demais e perdemos o horário de visitação.
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Livraria El Ateneo
De longe, esse é meu maior arrependimento da viagem. Mas em contrapartida, usamos o comecinho da noite para conhecer a Livraria El Ateneo, que também fica bem próxima ao nosso hotel e foi um passeio incrível.
Antes um teatro, o magnífico edifício, batizado de Grand Splendid, foi inaugurado em 1919 e, em 2000, foi comprado pela rede de livrarias El Ateneo. Então foi restaurado e transformado na segunda livraria mais linda do mundo, segundo o The Guardian.
Se qualquer Livraria Saraiva com design quadradinho me encanta, com as prateleiras lotadas e aquele aroma que só os livros conseguem ter, acredito que é fácil imaginar a minha reação ao entrar na El Ateneo. Um dos pontos mais bonitos da viagem, a imensidão de livros parece combinar tanto com a opulência da arquitetura do teatro que quase esqueci do palco ali na frente.
Mas uma hora a gente tem que ir embora, né? Depois de visitar todos os andares e cantinhos escondidos desse lugar absurdo, saímos para andar mais um pouco pela Recoleta: entramos em ruas quaisquer e acabamos nos arredores do Cemitério, demos uma volta no Recoleta Mall e então voltamos para o hotel. Comemos uns lanches no Subway e dormimos.
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Dia 4 | Jardim Japonês, Palermo e Puerto Madero
Último dia de Diário de Viagem de Buenos Aires, e bom, tem aquelas burocracias e rotinas para seguir, então antes mesmo de tomar café, deixamos nossas malas prontas e fizemos check-out no hotel. Os funcionários nos deixaram guardar as malas em uma salinha do hotel, já que nosso voo só saía quase de madrugada.
Depois de comer nossas últimas medialunas, traçamos um roteiro do que poderia ser o nosso dia e rumamos até o metrô. Nossa manhã seria em Palermo.
Palermo
O metrô mais próximo do Jardim Japonês é o Plaza Italia, da linha D, mas ele não é tão perto assim e por isso rende uma meia hora de caminhada, mais ou menos. Como gostamos de andar e queríamos conhecer Palermo, isso não foi um problema, por mais que o frio tenha nos obrigado a parar e tomar um chocolate bem quente.
Dois anos e meio depois eu não lembro por quais ruas e avenidas nós andamos até chegarmos ao destino final, mas a impressão foi a de que Palermo é a parque mais tranquila de Buenos Aires. As avenidas são (muito) largas, as árvores dominam as ruas, parques e praças estão em todos os cantos e é tão gostoso andar pelas calçadas…
As pessoas fazem caminhada, passeiam com os cachorros, levam crianças para brincar nos parques e vivem como se o dia tivesse umas horas a mais. Não sei. Foram poucas as horas no bairro, mas sempre que eu lembro de Palermo, tenho a sensação de poder relaxar e respirar com calma.
Jardín Japonés
Continuamos, chegamos ao primeiro destino. E a primeira coisa a fazer quando se chega ao Jardim – que fica na Avenida Casares 2966, é comprar o ingresso, que custava 95 pesos em 2014. Atualmente (2021), o valor está em 290 pesos.
Se as nuvens do dia e a atmosfera de Palermo já me deixaram com a sensação de estar em um antro de tranquilidade, tudo triplicou quando eu entrei no jardim. Diferente de tudo o que eu já vi ao vivo e a cores, é um escape oriental no meio de uma metrópole latina. Tão bonitinho e tão amorzinho que nem parece tão artificial.
Ele representa as relações entre Japão e Argentina, é administrado pela Fundação Cultural Argentino Japonesa e ainda conta com um restaurante tradicional – ele fica bem na entrada do jardim.
Alcorta Shopping
Saindo de lá com a plena certeza de que o mundo é um lugar bom, pensamos em visitar o MALBA, que fica ali perto, contudo, sendo sincera nesse diário de viagem de Buenos Aires, estava tão frio e estávamos com tanta fome, que trocamos um extremo por outro e fomos almoçar no Alcorta Shopping. Onde tivemos a divertida experiência de acompanhar argentinos assistindo a um jogo da Copa.
Assim como aqui no Brasil, eles se amontoam ao redor de uma televisão ligada, seja lá onde ela esteja – no caso, uma loja de eletrodomésticos. Mas tudo mudou de perspectiva quando saímos do shopping e nos deparamos com ruas vazias. Desertas. Sem uma alma viva. Ou morta.
Andamos muito até a estação de metrô sem a companhia de uma pessoa pelo caminho. E embarcamos rumo ao centro novamente, porque dessa vez queríamos dar uma passada em Puerto Madero.
Puerto Madero
Com todas as lojas e restaurantes fechados e a total ausência do elemento humano, ficamos pouquíssimo tempo no bairro: mal circulamos para muito além da Ponte Mujer. Eu não sei vocês, mas não consigo enxergar uma cidade sem os seus habitantes.
É tão estranho andar por ruas vazias quando não há pessoas para significarem aquele lugar. Não sei. Não consigo. Eu só queria voltar para o centro e encontrar alguém querendo trocar pesos para mim.
A ponte, arquitetada por Santiago Calatrava, representa um casal dançando tango. Mas o seu nome, mujer, dialoga com várias ruas de Puerto Madero, cujos nomes homenageiam várias mulheres importantes para a história do país.
Fim do diário de viagem de Buenos Aires
Depois disso, a gente começou a calcular o tempo restante. Dava para comprar uns souvenirs na Florida, voltar andando para o hotel, pegar nossas malas e dar tchau para a cidade. E assim fizemos.
Foi uma viagem curta, corrida, com uns perrengues aqui e umas risadas ali, mas uma viagem que vez minha mãe e minha irmã se encantarem pelo mundo de passagens aéreas, línguas diferentes e lugares novos. Por isso, a gente nunca mais parou de viajar depois da Argentina, e também por isso, o país tem um lugarzinho bem especial no meu coração.
Enfim, obrigada por ler meu Diário de Viagem de Buenos Aires!