Como é ficar no Newen Kara Hostel | Hospedagem em Santiago
Quando eu fui para a Europa pela segunda vez, em 2018, eu fiz uma promessa. Eu demoraria para voltar ao Velho Continente. Isso porque meu dinheiro não nasce em árvore ou sai da carteira dos meus pais. Eu trabalho. Recebo. Pago contas. E guardo.
Bom, tanto na época da viagem pra Europa quanto no Chile, eu ainda era uma estagiária. No primeiro caso, eu ganhava muito mal. No segundo, eu ganhava o dobro do primeiro emprego, mas ainda ganhava mal. Por isso, quando voltei da Espanha e da França, eu decidi mudar meus próximos destinos de viagem. Fazer R$ 2.500 virarem R$ 500 euros deveria ser um crime. Pelo menos.
Até logo, Europa. Olá, América do Sul
Buenos Aires, 2014
Fiz um plano de conhecer todos os países da América do Sul antes dos 25 anos. Na época, eu tinha 21 e só conhecia a Argentina. Pode parecer difícil, mas o plano era factível. Três países em 2019. Ao menos um em 2020. E assim por diante. Ir para as Guianas, Venezuela e Suriname seria mais complicado. Mas os outros países eram totalmente posíveis.
Tanto que, em 2019, fui para o Uruguai e para o Chile. E olha que eu também deveria ter ido para a Colômbia. E, spoiler de 2020: já era para eu ter ido para outro país no primeiro semestre deste ano, mas a COVID-19 não deixou.
Pois bem, quando eu fui para o Uruguai, consegui pagar um hotel bem legal e até chiquezinho em Montevidéu. Assim, meus planos iniciais para o Chile eram de ficar em hotéis também. Não precisavam ser super legais. Mas ter um quarto e um banheiro privativos me deixariam muito feliz. Pena que o Chile é caro.
Não deixe a cotação dos pesos te enganar
Viajar pela América Latina é bem mais barato do que ir pra Europa? Sem dúvidas. Sua viagem vai sair quase de graça? Jamais. Alguns lugares são mais possíveis do que outros, mas no geral, o Chile está na lista de países caros. As passagens custam a média do Cone Sul. Alimentação é cara. Passeios variam, a depender do serviço e experiência que você deseja. Transporte é mediano. E hospedagem, bem, a hospedagem é cara.
De cara eu percebi que hotéis ficariam para alguma outra viagem. E voltei ao mundo dos hostels. A parte boa é que, com o meu orçamento, eu poderia pagar por quartos individuais! Com banheiros compartilhados. Isso tudo é um problema pra mim? Nem de longe. Já fiquei em quartos compartilhados e ficaria novamente sem reclamar. Foi apenas uma quebra de expectativa. De uma pessoa com alma velha que aprecia momentos de conforto. Afinal, eu ando uma média de 20 quilômetros diários quando eu viajo.
Bom, aceita a minha realidade, comecei a separar opções viáveis em Santiago e San Pedro de Atacama, as duas cidades onde eu faria base. E o primeiro passo sempre é entender o mapa das cidades. Para, então, descobrir quais são os melhores bairros de hospedagem e se localizar dentro deles. Eu já expliquei como fazer isso láaaa atrás, em posts de Paraty e de Buenos Aires. Mas não há segredo. Dentre os bairros considerados seguros, escolha os que possuem as melhores opções de transporte e serviços. No fim do dia, o que você quer é uma boa estrutura.
Se viajar sozinha, como foi o meu caso, é bom escolher locais beeem próximos a estações de metrô ou pontos de ônibus, e em ruas movimentadas. Você não vai querer descer do metrô e ter que andar vinte minutos, em ruas desertas, em um país que não é o seu. Acredite em mim.
Onde ficar em Santiago? Como eu cheguei ao Newen Kara Hostel
Essa seleção me levou para o bairro de Providencia. Ele fica na zona oeste de Santiago, é de classe média alta e possui tudo o que eu listei ali em cima. Boas opções de transporte. Ruas movimentadas. Ótima estrutura de serviços. E alguns hostels que pareciam ser legais.
Bairro da Providencia
Eu escolhi o Newen Kara Hostel por alguns fatores. O preço deles era a média dos outros. Mas ele era o mais próximo de uma estação de metrô, tinha café da manhã incluído, era reembolsável e eu fui com a cara da decoração.
Reservei quatro diárias por pouco mais de R$ 600 reais, já que eu pagaria apenas no check in. Guardem essa informação. Achei o preço ótimo por um quarto individual com banheiro compartilhado. Pois bem. Algo que o Booking e outros blogs de viagem sempre te alertam em relação a acomodações no Chile é a pagar em dinheiro. Ou conversar com o lugar para saber das políticas deles.
IVA, pagamentos em espécie e um prejuízo de R$ 200
Isso porque chilenos precisam pagar uma taxa quando se hospedam, mas estrangeiros não. É o famoso IVA. Bom, a isenção de uma taxa parece ser ótima, né? O valor no Booking, inclusive, não inclui o IVA. Mas isso só costuma valer para pagamentos em dinheiro. Com essa informação, eu fui procurar se o hostel aceitava pagamento em cartão sem cobrar a taxa. E pelo que eu achei, parecia que sim.
Aqui, gostaria de fazer um adendo. Eu gosto de pagar hotéis e outras coisas com valores mais altos sempre no cartão. Na América Latina, com cartões de crédito. Na Europa, com cartões de débito tipo travel money. Não gosto de andar com pilhas de dinheiro por aí, então só levo, em espécie, quantias que eu sei que não terei como pagar com cartões. É o caso de transportes públicos, coisinhas aleatórias que a gente compra na rua e uma ou outra opções de alimentação.
Para hospedagem e passeios mais caros, prefiro pagar tudo no cartão. Mesmo que isso me custe alguns dólares a mais em IOF. Mas eles costumam compensar o meu prejuízo se eu fosse roubada ou perdesse as notas.
Pois bem. Cheguei no hostel, fui super bem recebida, adorei o clima de casa das instalações e fui pagar. Uma das donas me informou que com cartões de crédito, ela não consegue tirar o IVA. Então, de uma hora para a outra, minhas diárias subiram mais de R$ 200. Ela até me deu a opção de trocar o dinheiro no dia seguinte e pagar em espécie, mas não valeria a pena. Eu ia deixar no hostel mais da metade do que tinha levado.
Então paguei no cartão mesmo. E lá se foi o primeiro gasto inesperado da viagem.
Eu conto isso com o objetivo de alertar vocês. Eu fui alertada. Eu pesquisei. Mas mesmo assim, não foi o suficiente. A minha dica é SEMPRE confirmar com a acomodação. Mandem um e-mail e perguntem das políticas de pagamento. Assim você se planeja e não se vê obrigada a desembolsar mais de R$ 200 no meio da madrugada. Lá se foi parte do meu dinheiro para emergências.
Por fim, o Newen Kara Hostel
Passado o susto, fui orientada quanto às políticas do hostel, recebi minhas chaves, fui apresentada à fofíssima cachorrinha que mora por lá, e desci para o meu quarto. Ele ficava no primeiro subsolo, e o acesso era um pouco complicado por conta de uma escada íngrime e bem antiga. Mas ela era segura e não representava nenhum perigo.
Meu quarto, por fim, tinha um ótimo tamanho. Com duas camas, um armário e um criado mudo, eu tinha tudo o que eu precisava. É claro, junto de uma maravilhosa régua de tomadas, um aquecedor e um abajur.
De fato ele era bem simples, mas não precisa de mais nada. A cama era confortável. A roupa de cama era ótima e bem quentinha – algo muito importante para as noites de inverno em Santiago. O aquecedor funcionava super bem, e por mais que não fosse autorizado mantê-lo ligado durante a madrugada, o quarto continuava quente quando eu o desligava.
Além disso, ele era limpo e arrumado todos os dias, e a janela aberta durante o dia o mantinha bem arejado.
Sobre o banheiro e algumas comodidades
Banheiros compartilhados sempre são uma questão. E nesse caso, eu não tive nenhum problema com ele. Sempre limpo e bem organizado, tinha água quente e uma ótima pressão do chuveiro. Nunca ficou sem papel higiênico ou sabonete para as mãos.
Eu sei, ter que compartilhar um banheiro com estranhos não é o melhor dos cenários. Mas de verdade, não faz assim tanta diferença. Principalmente quando ele é bem cuidado, limpo e está sempre disponível quando você precisa.
Falando em banho, gostaria de frisar uma coisinha aqui. Hotéis sempre colocam em seus sites e anúncios que possuem secadores de cabelo disponíveis. E normalmente, ou eles não têm secador nenhum, ou oferecem aqueles mini secadores que não adiantam nada para quem tem muito cabelo.
O Newen Kara Hostel é diferente. Eles disponibilizam um secador maravilhoso, desses que efetivamente funcionam, para os hóspedes. O que é maravilhoso quando você viaja no inverno e só consegue tomar banho à noite.
Espaços de uso comum, café da manhã e hospitalidade
Como já adiantei, esse hostel antes era uma casa residencial. Então, os espaços continuam lá. A recepção fica na sala, onde você pode assistir TV. A cozinha é bem equipada e aberta para os hóspedes. E o jardim também. E todos esses espaços são uma delícia. A decoração é uma graça e eles são muito aconchegantes. Você se sente em casa mesmo, principalmente quando conversa com os colaboradores.
Eles são super simpáticos, interessantes, solícitos e gentis. Adoram conversar com os hóspedes, saber mais das suas vidas, ouvir os detalhes do que você fez naquele dia. E isso é maravilhoso em qualquer ocasião. Mas principalmente quando se viaja sozinha – e é uma maluca por conversas.
Eu amo conversar. E em viagens, quero saber mais daquele lugar pelas palavras dos locais. Quero saber dos problemas que têm afetado o Chile (lembram das manifestações no final do ano passado? Eles já as tinham adiantado pra mim). Quero entender mais sobre a formação do país. E adoro quando me contam da situação política do lugar que estou visitando. Sou uma doida por política, principalmente a da América Latina.
Por isso, passei longos minutos conversando com eles. Trocamos informações sobre o Brasil e o Chile. Falamos sobre política de um jeito civilizado, que respeita opiniões e de fato ouve perspectivas distintas. Saí dessas conversas muito feliz de conhecer pessoas incríveis e, mais uma vez, de encaixar o meu país em um contexto que não é o avesso do mundo. Não só de jabuticabas se faz o Brasil. E quanto mais a gente conhece a América Latina, mais claro isso fica.
Café da manhã no Newen Kara Hostel
E eu ainda tenho que falar do café, né? Ele me surpreendeu muito. Cafés da manhã em hostels, principalmente se já estão inclusos nas diárias, costumam ser bem basicões. Mas não foi isso que eu encontrei no Newen Kara. Todos os dias, me serviam dois pães, uma variedade de frios, um iogurte, um folheado de chocolate, frutas e uma série de bebidas disponíveis, entre opções de sucos, chás, café, leite, e chocolate quente.
Tudo sempre muito gostoso e fresco, me mantinha alimentada e satisfeita por longas horas – tanto que eu demorava muito para almoçar depois desse café da manhã.
Se todos os hostels se inspirassem nesse, os hóspedes ficariam muito felizes. Não era um café chique, mas era completo. E me fazia muito feliz com os sabores de framboesa, já que a fruta é abundante no Chile não custa um rim, como no Brasil.
Meu veredito final? Recomendo muito esse hostel. Ficaria lá de novo sem pensar duas vezes. Dessa vez, espero, em um quarto com banheiro privativo.
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