Toda viagem tem um perrengue

NYC sem chip, com frio, neve e fome!

Olá amigos andarilhos da Camille, tudo bem com vocês?

Andei um tempo sumida, não porque eu quis, mas só porque a vida é uma safada. Me perdoa pela ausência, mas estou aqui de volta – eu e os meus perrengues.

Agora que a gente já sobreviveu à nossa primeira DR, bora embarcar comigo para NY?

Estamos em 2013, em um mundo onde o dólar ainda era 2 para 1, quase um afago na carteira de quem planeja uma viagem ao exterior. Dessa vez me certifiquei de fazer a reserva de passagens com uma agente de turismo de confiança (a mesma que salvou a minha lua de mel), e lá estava eu e meu marido embarcando para a realização de mais um sonho: conhecer a tal da “Big Apple”. “Mas Natasha, vocês não queriam conhecer todas as Disneys do mundo?” Sim, muito, mas vamos com calma que o que não me falta são planos de viagem”.

Não durma no ponto – ou melhor, na imigração

Embarque feito, voo direto (chique) e chegamos em Nova York. Ao me aproximar da área de imigração, vejo um cartaz lindo e gigante da Tiffany & Co. e a minha primeira reação é, como boa turista, puxar a câmera para tirar uma foto. Eis que surge um policial e, aos berros, diz que é proibido tirar foto ali – mas gente, era só uma foto inofensiva! Mas como manda quem pode e obedece quem tem juízo, logo guardei a câmera e segui para a fila de imigração. Mas antes, o mocinho que está junto comigo pede para ir ao banheiro.

Dica para a vida: vá ao banheiro DEPOIS da imigração. Sempre! Tá apertado? Não vai aguentar? Faz xixi nas calças, mas não perca a oportunidade de ir direto para essa fila. “Ah, que louca você” – sou? Dá uma lida aqui no meu relato.

Estou eu aguardando o moço fazer o xixi e eis que chegam os passageiros de um outro voo. Parecia um voo eterno, de tanta gente que chegava da China e da Índia. Eu pisco e logo a fila da imigração está absurdamente imensa. Mas muito.

Se os colegas da América do Norte são ressabiados com os brasileiros, te digo que com indianos e chineses deve ser ainda pior, pois cada pessoa ficava no mínimo 5 minutos até a liberação (ou não) da Alfândega Americana. Dureza né. Pois bem, pouco a pouco vi o planejamento do dia indo por água abaixo – pegamos um voo que chegava em NY bem cedinho e a ideia era alugar um carro e ir até um outlet em New Jersey.Brasileiro, nos EUA, dólar 2 por 1, é certeza de felicidade plena e malas recheadas.

A saga do GPS: segunda temporada

Passou uma, duas, três e só quatro horas e meia depois conseguimos finalmente a liberação para entrar na América. Glória. Vamos lá buscar o já carro reservado – sem GPS para economizar, afinal, tínhamos comprado o aparelho na primeira viagem para Orlando. Devidamente acomodados e protegidos de um frio que eu não imaginava que pudesse fazer em pleno mês de março, seguimos a caminho do tal outlet. Só que não. Quem disse que o GPS encontrava sinal? Esse é um daqueles momentos que você fica profundamente irritada por uma situação que poderia ter sido facilmente evitada com o aluguel de carro COM GPS só por garantia. Nunca imaginei que ia passar perrengue por causa de localização novamente, mas nada como um ter um marido realmente mão fechada.

Se já estávamos atrasados por causa das quatro horas e meia na fila da imigração, adiciona aí na conta mais duas horas para o GPS sair de Marte e voltar para a Terra. Mas vamos que ainda temos compras a fazer. É aqui nesse ponto eu que te digo para agradecer o criador do Waze e ao mesmo tempo xingá-lo por não ter criado o app antes de 2013. Eu tinha lido que o trânsito em Nova York era tão tenso quanto o de São Paulo. Mas achei que em 40 minutos no máximo estaríamos na cidade vizinha para fazermos as tão sonhadas comprinhas. Que tola. Adiciona aí na conta mais quase 2 horas de avenidas congestionadas. Mas já estamos aqui, não adianta sofrer. Finalmente chegamos no outlet e a incrível missão de fazê-lo em pouquíssimas horas. Tudo bem, faz parte.

Compras feitas e fomos para o hotel reservado na frente do centro de compras. Um caminho de no máximo 15 minutos onde basicamente quase congelei. É mores, o nosso frio do Brasil não é nada se comparado com  o frio de lá. Acordamos no dia seguinte, devolvemos o carro na locadora e fomos para outro hotel, no Queens, de frente para a Big Apple, separados apenas pelo East River – a gente gosta de economizar e de ficar longe dos bed bugs – algo que parece ser bastante comum na ilha de Manhattan.

Muito frio e muita fome. Não necessariamente nessa ordem

Os dias que se seguiram foram de um frio que eu nunca tinha vivido – e eu achando que ia ser agraciada com a beleza da chegada da primavera gringa. Que nada. É um gelo que entra no seu corpo até atingir o seu osso e praticamente te faz sentir dores e fome. Muita fome. E Nova York, eu te digo, é uma cidade cara, mas a gente tem quem? A gente tem o Victor, o meu personal garimpeiro de pechinchas, que descobriu nada mais nada menos do que uma loja chamada Jack’s World, onde praticamente tudo era vendido a 99 centavos de dólar, popularmente conhecida como loja onde você fica feliz feito pinto no lixo. Posso te garantir que nessa viagem pelo menos 50% da minha alimentação foi feita por meio desse lugar, com muitas Pringles genéricas e M&M’s. Os outros 50% foram de “one dollar slice pizza”, isso mesmo, um pedaço robusto de pizza ali na frente do restaurante mesmo em pé, rapidinho. Uma beleza. Viva a avareza.

Mas te conto que achar essa loja não foi fácil. Te conto na verdade que achar qualquer coisa em Nova York foi extremamente difícil, a não ser as coisas grandes, tipo a Estátua da Liberdade (carinhosamente apelidada por nós de “a moça”) que pode ser vista ali da beirinha da ilha. E te digo que foi difícil porque tínhamos na época duas opções: A – comprar um chip local com 3G para nos localizarmos facilmente e não perder tempo se perdendo, ou B – não gastar com isso, seguir a conselho do Zeca Pagodinho, “deixar a vida nos levar” e aproveitar a internet da Starbucks. O que vocês acham que a gente (ele) escolheu?

Vamos aí com a segunda opção, nos aventurar de forma mais roots, sem medo de ser feliz – ou de congelar. Pensem num casal que entrou em todas as Starbucks de NY para pegar Wi-fi e pior, entrar só pela internet mesmo e ficar com cara de cachorro que admira o frango de padaria para todas as pessoas que saíam com um café quentinho, um bolinho, enquanto a gente esperava a internet alheia nos indicar o caminho da Jack’s World, e torcer para encontrar lá um “ducinho” para compensar o desejo por Starbucks.

Oi, neve!

Pelo menos essas paradas nos ajudavam a aquecer um pouco, pois o frio estava totalmente absurdo. Juro que segui o guia do viajante perfeito e chequei as temperaturas e 10°C não me pareceu aterrorizador. O que ninguém contou é que 10°C lá também é igual a sensação térmica de -5°C. Outra coisa que as pesquisas não mostraram: a chegada de uma coisa lindinha, branquinha, que eu nunca tinha visto antes na vida. Ela, a dona Neve. Foi saindo de um restaurante (um dos pouquíssimos que fomos, já que vocês já sabem do que nos alimentávamos) numa noite logo no começo da viagem que nos deparamos com lindos floquinhos branquinhos. Se não demorei nem 5 minutos para descobrir as belezas da neve, te digo que também não levou muito tempo para perceber os perrengues que ela pode te oferecer, como escorregar a cada 5 passos. Nesse dia eu vi a rua ficar completamente coberta de gelo em menos de uma hora.

Já não bastasse não ter uma roupa quente o suficiente para enfrentar a situação, nos deparamos com um outro perrengue – que chega a ser bizarro e me dá até uma leve vergonha de contar. Meu digníssimo não havia percebido até então que tinha um furo no tênis dele, coitado. Se você prestou atenção nas aulas de ciências, você deve saber que o gelo vira água e te digo que vira água BEM gelada. O restaurante era um bocado longe do hotel, estávamos de transporte público e tudo o que nos restou foi rezar para o pé do moço não congelar, gangrenar e cair. Chegamos no hotel, o pé dele ainda no corpo, mas completamente roxo. Água muito quente e voltou a sentir os dedos novamente – ufa, temos um pé recuperado.

Nem preciso dizer que no dia seguinte o foco foi procurar roupas que realmente pudessem nos manter quentes e um tênis sem furo para garantir a volta ao país de origem com o pé fixo ao corpo. Encontramos as roupas, o tênis, e como quem procura acha, encontramos um brinquedo muito legal para o meu sobrinho que tinha acabado de nascer, aqueles tapetes de atividades infantis que ocupam pouco espaço na mala – só que não – mas ele merece!

 

A rápida passagem no Outlet, a compra de roupas específicas para um frio congelante e aquisição de diversos itens em uma cidade onde o consumismo te abraça fizeram a gente chegar nessa situação aí da foto. Um dia antes de voltar para o Brasil, tivemos que ir em busca de mais uma mala para comportar tantas aquisições – incluindo um tapete de atividades infantis. Acontece que esse brinquedo aí tem duas “hastes” gigantes, que tiveram que entrar na mala quase que dobradas, dando um novo formato arredondado, para a uma das minhas malas. O interessante é que até hoje essa mala permanece assim, com curvas nas laterais, e sempre que vejo isso acabo rindo e lembrando que de toda viagem tem um perrengue e muitos deles acabam valendo à pena, nem que seja por se tornarem lembranças engraçadas.

Malas prontas – e deformadas – embarque feito e uma chegada ao Brasil livre de revistas da Receita. Imagina ter que explicar que duas hastes gigantes na verdade são peças de um brinquedo?  Não ia dar certo e eu ia ser presa.

Gostou dessa viagem? Espero que sim! E tomara que você tenha ficado com vontade de embarcar comigo para o próximo destino: Califórnia. Vem comigo conhecer a primeira Disney do mundo?

Um beijinho no seu coração viajante.

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