Diário de Intercâmbio em Paris: Montmartre, Sacré Coeur e Palácio de Versalhes
Este diário de intercâmbio em Paris contém informações sobre quatro dias da minha viagem, nos quais conheci a região de Montmartre e também o Palácio de Versalhes!
Se no segundo dia de intercâmbio conheci o 9th arrondissement, para depois andar pelo Quartier Latin e conhecer a Champs-Elysées, no sábado foi a vez de conhecer o Rio Sena e subir na Torre Eiffel. Enfim, passei dois dias mais tranquila para então visitar Montmartre e, depois, conhecer a casa de Maria Antonieta.
Mas antes, vamos recapitular a primeira semana de intercâmbio.
Resumo da primeira semana em Paris
Idioma
A essa altura do campeonato eu já compreendia tudo o que escutava ao meu redor. Seja por entender as palavras em si ou por contexto, não ficava mais perdida ou pedia a ajuda de amigos que sabiam mais do que eu. O que sinceramente foi um alívio. Principalmente quando eu precisava comprar alguma coisa e os vendedores puxavam assunto. O que acontecia com certa frequência.
Por sua vez, falar era mais complicado. Eu até conseguia formular algumas frases básicas, mas era corriqueiro errar uma conjugação aqui e outra ali, o que eu considerei normal e não encanei com isso. O principal era conseguir me comunicar, e se entendiam o que eu falava, a operação fora bem sucedida.
Cidade
Se no começo a quantidade de linhas e estações do metrô me confundia, contudo, agora eu já estava acostumada com elas e conseguia prever qual pegaria para ir até tal lugar. Passei a conhecer os arredores do meu bairro, saber o nome das ruas de cor e também o de alguns estabelecimentos com nomes compridos e cheios de artigos. De alguma forma, comecei a me sentir em casa.
Foi fácil me acostumar com o ritmo de Paris, que não consegue ser de metrópole com aquela arquitetura e bicicletas e aroma de baunilha. Mas está longe de ser uma cidade de interior, já que os congestionamentos, gritos de desigualdade social e metrôs lotados estão ali.
O mais interessante de se passar um tempo consideravelmente grande em um lugar é que logo seus estereótipos caem por terra. A xenofobia com imigrantes, principalmente de aparência árabe ou islâmicos, é gritante no olhar de alguns e nos comentários de outros. Que então eu conseguia entender.
Estes estão em sua maioria em empregos mal remunerados ou trabalhando como vendedores de souvenirs nos pontos turísticos. Para a noite voltarem para suas casas que, quando não estão nos subúrbios, são apartamentos minúsculos divididos com várias famílias em uma ou outra vila um pouco mais afastada do centro.
Os moradores de rua estão nas calçadas de Paris. Com filhotes de cães e gatos ou crianças, pedindo ajuda em placas de papelão enquanto as mãos suplicam. Diariamente pessoas pulam as catracas do metrô. Sujam as ruas com bitucas de cigarro e ultrapassam o farol vermelho. Homens te assediam nas ruas, seja com palavras ou olhares. E aos poucos tantas caixas se abriram no meu cérebro que demorei meses para montar os quebra-cabeças que elas guardavam.
Realidade
Deixei claro meu amor por Paris nos primeiros diários. Falei de suas belezas e de como a cidade é poética para mim, seus aromas e edificações e delicadeza. Então deixo aqui o meu toque de realidade aos filmes romantizados.
E faço questão de frisar: nunca teria deixado o viralatismo para trás se a Paris que eu idealizava não tivesse cruzado o meu caminho em um verão anos atrás. É claro que eu não imaginava um mundo perfeito e modelo, mas quando ser brasileira é tudo o que você tem, isso passa a valer muito mais. E, finalmente, você compreende as facetas e marcas que a cultura deixa em você, impressões estas que não saem da pele por nada nesse mundo.
Escola
Enfim, eu estava acostumada com os colegas de classe, a professora e o funcionamento da escola. Que por ser uma escola de moda, atraía meu fascínio a cada vaga de estágio na Balmain que aparecia pregada nos quadros de aviso.
As máquinas de comida, que me faliram no intercâmbio, pegavam meus euros em troca de chocolates quentes extra fortes que eu sinto falta até hoje. As aulas eram mais fluídas e dinâmicas uma vez que (1) todos já se conheciam e (2) o nível do francês de todos já melhorara um pouco desde a primeira aula.
Agora, vamos para a segunda semana!
Dias 7 e 8 | Residência
Domingo sempre era dia de ficar na residência. Então, a rotina se manteve. Acordar. Procurar alguém com sabão em pó em barra. Colocar as roupas para lavar. Não perder a hora que o carrinho da roupa de cama limpa passa. Arrumar a bagunça que se acumulou na semana. Ler um livro enquanto as espanholas conversam no meu quarto e eu quero morrer de amores com os sotaques diferentes. De Madrid, Barcelona, Valência, Granada, Mallorca, Córdoba e contando.
A tarde a gente coloca o livro sob o braço e pega a escada secreta para chegar mais rápido ao refeitório. Escolhe uns sucos e comidas diferentes na máquina e senta nos degraus da igreja para ver o amigos jogarem tênis de mesa. Às vezes, o corredor do WiFi fica tumultuado com pelo menos dez línguas diferentes sendo ditas ao telefone. Às vezes, a gente vai assistir a um filme francês na sala de conferência. Para enfim, dormir.
Segunda não foi muito diferente. Além da escola de manhã, a tarde foi livre para ficarmos dentro da residência. Já citei que não podíamos sair sozinhos, não? Então é só repetir as etapas de leitura, arrumação, sotaques e comidas diferentes até o sol se pôr às dez da noite em Paris.
Dia 9 | Montmartre, Sacré Coeur e Quartier Latin
Na terça-feira a programação parecia se resumir a uma visita à Sacre Coeur, ou Basílica do Sagrado Coração. Mas na realidade, foi muito mais do que isso. No horário de sempre pegamos o metrô. Dessa vez, linha 1 sentido La Defense e descemos na estação Concorde. Onde fizemos baldeação para a linha 12, sentido Front Populaire, e o ponto final foi na Abbesses, em Montmartre.
A primeira parada no bairro boêmio de Montmartre foi o Mur des Je T’aime. Um muro de azulejos azuis preenchido por centenas de eu te amos nas mais diversas línguas. Ele fica na Praça Rictus, e o meio de acesso mais fácil é pela mesma estação de metrô que eu citei ali em cima: Abbsses.
É um lugar fofo por si só. Que de certa forma combina com a atmosfera de Montmartre e suas escadarias tão raras em Paris. O mais alto bairro da cidade pode cansar suas pernas com tantos degraus para subir. Mas não os dispense nas ruelas e vilas, eles acrescentam ainda mais charme para uma região que exala encanto.
Caminhamos por cerca de meia hora pelas ruas encantadoras do bairro. Que vez ou outra se abriam para uma vista esplêndida de Paris ou se recolhiam aos bares que tantos famosos artistas uma vez já frequentaram.
Centro de Montmartre: Place du Tertre
É impossível não saber que se está chegando perto da Basílica. Os turistas se aglomeram. As lojas de souvenirs surgem. Se você observar os preços nos restaurantes, verá que estes sobem. Mas o maior indicador vem em forma de caricatura: a Place du Tertre.
Os pintores da cidade são os protagonistas de uma praça tumultuada, mas bonita e com um que de Renascimento para os meus olhos. Pintando caricaturas enquanto os restaurantes do entorno contrastam com seu ritmo mais frenético.
E devo confessar que meu primeiro crepe em Paris eu comi no Au Clairon des Chasseurs, ali na praça. Uma fortuna para pouca Nutella e servido em pratos, devo avisar que apesar de gostoso e o melhor que eu comi, não passa a experiência de ver um deles sendo preparado. Ficar com o rosto sujo de chocolate e se deliciar enquanto percorre Paris.
Sacre-Coeur
Enfim, a Basílica. Dizer que ela é maravilhosa é pouco. Falar que ela é absurda é pouco. Dizer que ela é incrível é pouco. Observar cada detalhe da sua construção até chegar nas abóbadas e ponto mais alto de Paris é uma experiência quase sobre-humana.
É proibido tirar fotos dentro da Basílica, que consegue ser mais linda do que a fachada, então deixo vocês ainda mais curiosos sem registros de seu interior!
Tínhamos cerca de meia hora livre para andar por Montmartre, então ficamos nos arredores da Basílica mesmo. E conhecemos muitas ruelas fofas para enfim, sentarmos na escadaria na frente da igreja para apreciar a vista mais imbatível da cidade.
Os últimos passos em Montmartre foram o alívio de descer os degraus da escadaria que liga a Basílica à Praça Louise Michel. Cujo carrossel é fofíssimo.
Depois de Montmartre, Paris à noite
Mas o dia não acabou em Montmartre. Já passava das 21h quando saímos da residência rumo ao Quartier Latin. Dessa vez, vimos o pôr-do-sol no Sena, a Notre Dame e sua beleza absurda, a Pont des Arts e a Torre Eiffel iluminada. Tudo isso em uma caminhada super gostosa que revezava as ruas e pontes com as margens do rio.
Paris à noite é um espetáculo a parte. Você finalmente entende o cidade luz e entra de cabeça no romantismo dela. Há menos gente nas ruas. A temperatura cai um pouquinho. E o ritmo desacelera a ponto de você, empoleirado numa ponte qualquer, não percebe o tempo passar quando o relógio já marca 23h.
Na Notre Dame, eu finalmente pude fazer o que esqueci da primeira vez. E me matava toda a vez que eu via a Catedral durante passeios. Fazer um pedido no Marco Zero de Paris. Quem já leu Anna e o Beijo Francês, da Stephanie Perkins, sabe do que eu estou falando. Mas para os desavisados, se você fizer um pedido com os pés sobre o marco, reza a lenda que ele vai se realizar.
Ele fica bem na frente da Catedral e muitas vezes passa despercebido. Tanto que havia um número considerável de pessoas andando por ali e nenhuma delas sequer olhou para ele.
Dia 10 | Palácio de Versalhes
A primeira vez que eu assisti Maria Antonieta foi em 2012. Mais ou menos um ano antes de viajar, na aula de História da Arte. Obviamente, já sabia do Palácio. Já estudara a história francesa desde antes de Carlos Magno e estava ciente de como se deu a construção e a importância dele na linha do tempo da França.
Mas assistir ao filme. E depois “andar” pelo castelo pelo Google Earth, foi fascinante. Acredito que cheguei a sonhar com a Sala dos Espelhos. Isso sem nem imaginar que um ano depois estaria lá dentro.
Como chegar?
Dessa vez deixamos o transporte público de lado e fomos até Versalhes, cidade nos arredores de Paris, em um ônibus fretado. A viagem não demorou mais do que 40 minutos, mas já deu para ter uma noção da estrada e também da cidadezinha super fofa que abriga e, pelo visto, vive em torno do Palácio.
A estação Versailles Rive Gauche, da linha C5 do RER, é a mais próxima do palácio para quem depende do metrô. Além das opções de ônibus disponíveis.
Enfim, o Palácio
A vista do enorme portão dourado com a simetria do Palácio chega a ser assustadora de tão maravilhosa. É uma daquelas imagens que denuncia o quão pequeno e inútil você é no mundo, te faz viajar no tempo e, a cada passo, pensar. “Uau, quantas decisões importantes foram tomadas por aqueles que pisaram nesse mesmo chão que eu.”
A ânsia por entrar naquele lugar aumentava toda a vez que eu identificava um lugar retratado em Maria Antonieta. E dos lugares que me emocionam, o Palácio de Versalhes está no meu top five.
Palácio por dentro
Como éramos um grupo e todos os ingressos estavam comprados, apenas esperamos um pouco na parte de trás do Palácio, de frente para os Jardins. Antes de nos guiarem até uma incrível sala de mármore branco que indicou qual seria a minha expressão durante toda a visita. Queixo caído.
A bateria da minha câmera acabou em algum momento. Então minhas próximas fotos foram tiradas com a câmera do iPod, péssima, por sinal. Mas é o que eu tenho, infelizmente.
A visita é guiada por meio de um aparelhinho de áudio que te explica tudo durante o caminho. Não me lembro exatamente quais os idiomas disponíveis, mas peguei um em português de Portugal, e apesar do estranhamento inicial, a compreensão foi perfeita
O ponto alto da visita é o Salão dos Espelhos. A sala é tão absurda que você não sabe direito para onde olhar. O teto é um verdadeiro desfile de lustres e afrescos que resolveriam a vida de toda a sua geração até 2200. A parede esquerda é recoberta de espelhos que, por mais que sujos e de difícil identificação com o reflexo, deixam a sala ainda mais incrível
A direita te dá mais uma vista esplêndida dos jardins, e o conjunto é capaz de desaparecer com as pessoas que também estão pasmas com tanta beleza – e um pouquinho indignadas também, porque a extravagância teria resolvido tanto, evitado tanto, ajudado tantos.